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O JUÍZO particular decide da sorte da alma na eternidade: ou será destinada ao céu ou ouvirá a terrível sentença da morte eterna. Aquelas almas, porém, que não apresentam a pureza necessária para poderem ser admitidas no céu, devem descer ao lugar da purificação, o Purgatório.

A doutrina da Igreja católica sobre o Purgatório compreende três pontos: 1.º o Purgatório existe; 2.º Nele as almas serão purificadas; 3.º Os fiéis da Igreja militante podem, pelas orações e obras meritórias, aliviar as penas das almas no Purgatório.

1.º O Purgatório existe deveras. Deus revelou esta verdade no Antigo Testamento. “É um pensamento santo e salutar orar pelos mortos, para que sejam livres dos seus pecados.” (2. Maccab. 12, 46.). Destas palavras devemos deduzir que já no Antigo Testamento se acreditava num lugar expiatório, em que as almas dos defuntos eram detidas, até que fossem absolvidas dos pecados.

Jesus Cristo fala de pecados que “não serão perdoados nem aqui, nem no outro mundo.” (Math. 12, 13.) Logo, para certos pecados, há possibilidade de serem perdoados ainda no outro mundo. O lugar onde estes pecados serão expiados, é o Purgatório.

A Igreja ensina, com toda precisão, a existência do Purgatório. Assim escreve S. Gregório Magno: “Sei que alguns devem fazer penitência ainda depois desta vida, nas chamas do Purgatório.” – “Uma coisa é esperar o perdão – diz S. Cipriano, – e outra entrar na eterna glória; uma coisa é ser metido no cárcere e dele não sair, enquanto não for pago o último ceitil, e outra coisa é receber imediatamente a recompensa da fé e da virtude; uma coisa é penar muito tempo e purificar-se nas chamas do Purgatório e outra coisa é ter removido todos os pecados, pelo martírio.”

Os concílios ecumênicos de Carthago, Lyon, Florença e Trento definiram bem claramente a fé na existência do Purgatório. Nas antiquíssimas orações litúrgicas a Igreja pede a Deus que “absterja as manchas que ainda aderirem às almas dos fiéis defuntos,” – que “delas se compadeça e lhes conceda o descanso eterno” – que “lhes conceda o lugar da paz e da luz,” – que “as tire das tristes moradas e as faça gozar da sorte dos justos.

Esta doutrina da Igreja está muito de acordo com a razão. Se é certo que no céu entrarão somente as almas purificadas; se é certo que poucos homens na hora do trânsito estão isentos da mais leve culpa, certo seria que, com pouquíssimas exceções, os homens ficariam sempre excluídos do céu, se não houvesse na eternidade um lugar de expiação, salvo se Deus, na sua misericórdia, perdoasse sumariamente todos os pecados e as respectivas penas na hora da morte, o que não acontece.

Na eternidade Deus “dará a cada um a paga, segundo as suas obras.” (Math. 16, 27.). Negar a existência do Purgatório equivaleria à exclusão do gênero humano quase inteiro da eterna bem-aventurança, o que seria contra a fé e a razão.

2.º No Purgatório serão purificadas as almas dos justos. O Purgatório é um lugar, onde não prevalece a misericórdia, mas a justiça divina. As penas das almas devem ser de natureza a satisfazerem plenamente à justiça divina.

É claro que devem estar em proposição exata com a gravidade da ofensa, que Deus pelo pecado sofreu. Quem poderá aliviar a gravidade da ofensa, que uma pobre criatura se atreve a fazer ao Criador? “Terrível é cair nas mãos de Deus vivo.” (Hebr. 10. 31.)

O Purgatório é um lugar de penitência, que porém não tem igual aqui na terra. A razão é clara. Toda a penitência feita aqui, por mais rigorosa que seja, tem por fim preservar o homem da penitência futura na eternidade. Se assim é, a penitência a fazer-se na eternidade deve ser extremamente dolorosa.

Se os maiores Santos castigavam o corpo com tanto rigor; se os primeiros cristãos prontamente tomavam sobre si as disciplinas mais ásperas e humilhantes, não era para outro fim, senão livrar-se deste modo das penas temporais na eternidade.

Se os rigores dos Santos, se as penitências públicas que estavam em uso no tempo da Igreja primitiva, não suportam comparação com as penitências do Purgatório, forçoso é concluir que estas devem ser muito dolorosas.

O Purgatório é um lugar de purificação, que assustaria, porém, os maiores penitentes, os mais dedicados amigos da Cruz. Por que? Porque a purificação realizada no Purgatório é inteiramente diferente daquela que Deus costuma aplicar nesta vida. A purificação feita aqui é meritória, em atenção à Paixão e Morte de Jesus Cristo.

A purificação, porém, no Purgatório é um sofrimento que não oferece o menor merecimento; são penas de que a alma, contra a vontade de Deus, se tornou merecedora pelos pecados.

Davi pediu a Deus: “Senhor, não me arguas em teu furor, nem me castigues em tua ira;” isto, segundo a explicação de Santo Agostinho, quer dizer: Assisti-me, ó meu Deus, para que não mereça vossa ira, isto é, as penas do Purgatório.

3.º Quem são aquelas almas que penam no Purgatório? Pela maioria não são nossas conhecidas, mas entre todas nenhuma há que nos seja estranha. Todas elas, sem exceção alguma, são unidas a nós pelo laço da graça santificante: são, portanto, nossas irmãs em Jesus Cristo.

Como não negamos o nosso socorro ao nosso irmão grandemente necessitado, não devemos nega-lo às pobres almas, que sofrem incomparavelmente mais, sem ter possibilidade de melhorar a sorte, ainda mais, quando temos em nossas mãos meios poderosos para aliviar-lhes as dores.

Não haverá entre as almas uma ou outra, que nos deve interessar mais de perto? Descendo em espírito às trevas do Purgatório, lá não descobriremos talvez as almas de nossos pais, parentes, amigos e benfeitores? A caridade, a gratidão não exigem de nós que lhes prestemos o nosso auxílio? Não têm elas direito à nossa intervenção, ainda mais quando as penas lhes foram causadas por pecados que cometeram talvez por nossa culpa?

É natural e justo que demos expansão à nossa dor, quando um dos nossos queridos entes nos é arrebatado pela morte; o verdadeiro amor, porém, exige de nós mais alguma coisa.

Cumpre que unamos as nossas lágrimas ao sacrifício de Jesus Cristo no Gólgota; cumpre que a nossa dor seja uma dor ativa, como o ativa foi também a dor que Jesus Cristo sentiu junto ao túmulo do amigo Lázaro.

A nossa dor pela perda dos nossos pais, parentes e amigos não se deve limitar a manifestações exteriores. Por mais ricas que sejam as coroas depositadas nos túmulos dos nossos mortos, por mais vistosos que se apresentem os monumentos que lhes erigimos sobre os restos mortais, não preservam o corpo da decomposição, nem defendem a alma contra os tormentos do Purgatório.

Não querendo fazer-nos culpados de ingratidão e inconsciência, é mister que empreguemos os meios que a Igreja tão generosamente nos oferece, como sejam: a oração, a recepção dos santos Sacramentos, em particular a Ss. Eucaristia, o Santo Sacrifício da Missa, obras de penitência e caridade; as santas indulgências, etc.

Um Pai Nosso rezado com devoção e humildade pelas almas, vale mais que muitas coroas de grande valor; uma Santa Missa celebrada pelo descanso eterno de uma alma, aproveita-lhe infinitamente mais que um suntuoso monumento, porque a Santa Missa é o sacrifício expiatório por excelência.

O espírito pagão, que com sua ostentação vaidosa e balofa se infiltrou em todas as camadas da nossa sociedade, procura também se insinuar no santuário, o que em grande parte já conseguiu. Como são diferentes os enterros de hoje, daqueles que os primeiros cristãos faziam nas catacumbas!

Naquele tempo havia muita devoção e pouca flor; hoje há, pelo contrário, uma imensidade de flores e coroas e pouca ou nenhuma devoção. Os primeiros cristãos levavam os defuntos ao cemitério cantando salmos e recitando orações; os cristãos de hoje acompanham os enterros por simples formalidade, sem lhes vir a ideia de rezar uma Ave Maria sequer pelo descanso do falecido; os primeiros cristãos confiavam os defuntos com muito carinho à terra, como uma semente preciosa da futura Ressurreição gloriosa; os enterros de hoje são quase destituídos por completo de tudo que possa lembrar as verdades eternas.

Como é bela a devoção às almas do Purgatório! Agradável a Deus, proveitosa às pobres almas, é utilíssima a nós mesmos. Não fechemos o nosso ouvido aos gemidos dos nossos irmãos, que padecem no Purgatório. Eles levantam as mãos para nós, suplicando o nosso auxílio.

Talvez sejam nossos pais; um pai amoroso, que nos dedicava os seus cuidados, dia e noite; talvez a mãe, que nos amava tão ternamente; irmãos, cuja morte tanto nos entristeceu; filhos, que eram o encanto da nossa vida; o esposo, sempre tão dedicado e fiel cumpridor dos deveres; a esposa, a fiel companheira, o anjo do lar.

Todos sofrem, sofrem penas amargas, impossibilitados de melhorar a sorte. A nós se dirigem suplicantes:

“Compadecei-vos de mim, compadecei-vos de mim, ao menos vós, que sois meus amigos, porque a mão do Senhor me tocou.”

REFLEXÕES

Entre as almas do Purgatório há muitas, que nunca na vida mortal cometeram um pecado grave. Por não terem satisfeito à justiça divina pelos pecados veniais com que a ofenderam, são retidas no lugar da purificação, até que tenham feito expiação do último, porque no céu nada de impuro pode entrar.

Imprudentes são, pois, aqueles que no pecado venial não vêm nada de mal e o cometem com a maior facilidade. Deus, que é eternamente justo, não poderia infligir aos homens um castigo tão tremendo, como é o Purgatório, se a maldade do pecado não fosse tão grande também.

O homem, diz o doutor angélico, devia preferir a morte e o sofrimento a decidir-se a pecar, não só a cometer pecado grave, como também a pecar levemente.

Há pessoas que não temem o Purgatório e nem tão pouco cuidam de dar a Deus a necessária satisfação das suas culpas. Dorme por muito satisfeito, assim dizem, se Deus não me condenar. Outros há que confiam nas orações e sufrágios dos parentes e amigos ou nas Santas Missas, para cuja celebração providenciaram no testamento.

Aqueles se convençam de que impunemente ninguém ofende a Deus e que o pecado leve é o caminho seguro para as culpas graves. Os outros leiam e ponderem as seguintes palavras de Thomas de Kempis:

“Não te fies demais nos amigos e parentes e não proteles tua salvação para mais tarde; mais depressa que pensas, os homens se esquecerão de ti. – É melhor providenciar em tempo e despachar já de antemão boas obras para a eternidade, do que confiar no auxílio de outros depois da morte. Se não providenciares em teu interesse, quem o fará por ti?”

Fonte: Na Luz Perpétua, Leituras religiosas da Vida dos Santos de Deus para todos dos dias do ano, apresentadas ao povo cristão por João Batista Lehmann

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2 respostas

  1. Boa tarde! Devemos sempre vigiar e orar para não cair em tentação. O pecado é coisa séria e nos fazem perder o céu, nos impedindo de entrar no Paraíso.
    O purgatório é um lugar de purificação de nossas almas e nossas irmães precisam de nós que ainda estamos aqui para ajudá-las. A atitude de rezarmos por elas agrada à Deus. Grata pelo texto sobre o purgatório! Amém!

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