O sentimento é geral: a civilização está ameaçada.
E a pior ameaça para a civilização não parte dos tiranos que, em certo momento, pareceram abalar o mundo. O fenômeno é bem mais profundo.
A humanidade cansou-se da civilização, a humanidade sente um prazer animal e irado em destruir o que ela mesma edificou penosamente, à força de vitórias contra si mesma:
- o seu valor humano, a sua afirmação espiritual, que a torna distinta e superior à natureza bruta. A civilização tornou-se um fardo insuportável para a humanidade, e ela a rejeita de si como um animal xucro.
Tudo o que representa constrangimento, “tênue” disciplina interior, esforço espiritual, está sendo rejeitado.
Por outro lado, o homem contemporâneo já não gosta de pensar por si mesmo, e a massa olha com desconfiança e surda irritação para os que não seguem as ideias “standards” que a Propaganda lhes incute.
A humanidade prefere entregar a função de pensar aos líderes. Quanto ao mais, ela se contenta com seguir docilmente os “slogans” do momento.
Além disso, avoluma-se cada vez mais o número dos que preferem passar suas férias em lugares quase selvagens, suprindo a falta de conforto pelo desembestamento de toda a personalidade, livres de todas as peias da civilização.
A própria personalidade é algo que também pesa aos homens de hoje, e já não são poucos os que procuram livrar-se dela, como de um fardo incômodo, e procura tornar-se simples números.
Enfim, esta é a verdade: os homens já não querem ser livres, para poderem ser libertinos.
A liberdade é uma responsabilidade, é um ônus espiritual, é uma vocação de aperfeiçoamento e de virtude, é um constrangimento para o homem contemporâneo. A isto, ele prefere a irresponsabilidade dos instintos.
Que vai ser da civilização?