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Verdadeira festa no Céu: Nossa Senhora coroada Rainha.

Desde os primeiros séculos da Igreja católica, elevou o povo cristão orações e cânticos de louvor e de devoção à Rainha do céu tanto nos momentos de alegria, como sobretudo quando se via ameaçado por graves perigos; e nunca foi frustrada a esperança posta na Mãe do Rei divino, Jesus Cristo.

“Por fim, a Assunção chega ao seu auge: a coroação de Nossa Senhora como Rainha dos Anjos e dos Santos, do Céu e da Terra, pela Santíssima Trindade. Houve então uma verdadeira festa no Céu. Ela foi coroada por ser Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo, Filha do Pai Eterno e Esposa do Divino Espírito Santo!”[1]

Com razão acreditou sempre o povo fiel, já nos séculos passados, que a mulher, de quem nasceu o Filho do Altíssimo – o qual “reinará eternamente na casa de Jacó″(2), (será) “Príncipe da Paz”(3) , “Rei dos Reis e Senhor dos senhores”(4)-, recebeu mais que todas as outras criaturas singulares privilégios de graça

E considerando que há estreita relação entre uma mãe e o seu filho, sem dificuldade reconheceu na Mãe de Deus a dignidade real sobre todas as coisas.

O anjo Gabriel visita Maria.

Assim, baseando-se nas palavras do arcanjo Gabriel, que predisse o reino eterno do Filho de Maria,(5) e nas de Isabel, que se inclinou diante dela e a saudou como “Mãe do meu Senhor”,(6) compreende-se que já os antigos escritores eclesiásticos chamassem a Maria “mãe do Rei” e “Mãe do Senhor”, dando claramente a entender que da realeza do Filho derivara para a Mãe certa elevação e preeminência.

Santo Efrém, com grande inspiração poética, põe estas palavras na boca de Maria: “Erga-me o firmamento nos seus braços, porque eu estou mais honrada do que ele. O céu não foi tua mãe, e fizeste dele teu trono. Ora, quanto mais se deve honrar e venerar a mãe do Rei, do que o seu trono!”(7) 

Em outro passo, assim invoca a Maria santíssima: “…Virgem augusta e protetora, rainha e senhora, protege-me à tua sombra, guarda-me, para que Satanás, que semeia ruínas, não me ataque, nem triunfe de mim o iníquo adversário”.(8)

A Maria chama s. Gregório Nazianzeno “Mãe do Rei de todo o universo”, “Mãe virgem, [que] deu à luz o Rei do todo o mundo”.(9) Prudêncio diz que a Mãe se maravilha “de ter gerado a Deus não só como homem mas também como sumo rei”.(10)

É certo que no sentido pleno, próprio e absoluto, somente Jesus Cristo, Deus e homem, é rei; mas também Maria – de maneira limitada e analógica, como Mãe de Cristo-Deus e como associada à obra do divino Redentor, à sua luta contra os inimigos e ao triunfo deles obtido participa da dignidade real. 

De fato, dessa união com Cristo-Rei deriva para ela tão esplendente sublimidade, que supera a excelência de todas as

Beato Pio IX.

 coisas criadas: dessa mesma união com Cristo nasce aquele poder real, pelo qual ela pode dispensar os tesouros do reino do Redentor divino; finalmente, da mesma união com Cristo se origina a inexaurível eficácia da sua intercessão junto do Filho e do Pai.

Portanto, não há dúvida alguma que Maria santíssima se avantaja em dignidade a todas as coisas criadas e tem sobre todas o primado, a seguir ao seu Filho. 

Por isso, como escreveu na carta apostólica Ineffabilis Deus, Pio IX, Deus “fez a maravilha de a enriquecer, acima de todos os anjos e santos, de tal abundância de todas as graças celestiais hauridas dos tesouros da divindade, que ela – imune de toda a mancha do pecado, e toda bela apresenta tal plenitude de inocência e santidade, que não se pode conceber maior abaixo de Deus, nem ninguém a pode compreender plenamente senão Deus”.(11)

Tamanha é a glória de nossa Mãe amada que só a de Cristo, exaltado pelo Pai sobre toda criatura, é capaz de superá-la; Maria é, com efeito, como a Lua a refletir os esplendores do Sol, do qual recebe toda a sua beleza, toda a sua luminosidade. 

— Venerando hoje com especiais homenagens a Rainha e Soberana da Igreja e das almas, ponhamo-nos sob sua maternal proteção e peçamos-lhe a graça de, com desejos de santidade, praticarmos para com todos a virtude da humildade.

Fonte: Dominus Est.
Notas: (1) Meditações dos Primeiros Sábados – Pe. António de Almeida Fazenda, SJ (2) Lc 1,32. (3) Is 9,6. (4) Ap 19,16. (8) Cf. Lc 1,32-33. (9) Lc 1,43. (5) S. Ephraem. Hymni de B. Maria, ed. Th. J. Lamy, t. II, Mechiniae,1886 Hymn. XIX p. 624. (6) Idem, Oratio and Ss.mam Dei Matrem; Opera omnia, Ed. Assemani, t. III (graece), Romae,1747, p. 546. (7) S. Gregorio Naz., Poemata dogmatica, XVIII, v. 58: P G. XXXVII, 485. (8) Prudêncio, Dittochoeum, XVII; PL 60,102A. (9) Hom. ins. Lucam, hom. VII; ed. Rauer, Origenes Werke, t. IX, p. 48 (ex catem Macarii Chrysocephali). Cf. PG 13,1902 D. (10) S. Jeronimo, Liber de nominibus hebraeis: PL 23, 886. (11) Pio IX, Bula Ineffabilis Deus: Acta Pii IX, I, p. 597-598.

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