Este artigo se baseia na reflexão de Roberto de Mattei, publicada em “Corrispondenza Romana” de 21 de maio de 2025.

Um apelo à unidade em tempos de divisão
Na homilia de sua entronização em 18 de maio, o Papa Leão XIV fez um forte apelo à unidade da Igreja.
Em suas palavras transparecia a consciência da grave crise interna, agravada nos últimos anos por divisões doutrinárias, morais e disciplinares.
Poucos dias depois, celebrava-se o 1700º aniversário do Concílio de Nicéia, marco da luta pela integridade da fé católica. A referência não foi acidental.
A heresia ariana: um veneno no coração da fé
O Concílio de Nicéia, convocado pelo imperador Constantino em 325 d.C., reuniu cerca de trezentos bispos para enfrentar uma heresia que ameaçava a própria identidade do cristianismo: o arianismo.
Ario, sacerdote de Alexandria, negava a divindade de Cristo, afirmando que o Verbo era uma criatura intermediária, não consubstancial ao Pai.
Essa tese atingia o coração do dogma da Trindade e comprometia a Redenção, pois se Cristo não é Deus, sua morte não pode redimir o mundo.
O esplendor inesperado da nova cristandade
Reunidos na cidade de Nicéia, na Bitínia (atual Turquia), os bispos de todo o mundo cristão deliberaram sob a presidência de Constantino.
Segundo o historiador Eusébio, estavam presentes homens ilustres: taumaturgos como São Spiridion, mártires como Potamão de Heracleia e Pafnúcio da Tebaida, com marcas visíveis das perseguições. O Papa São Silvestre, impedido pela idade de comparecer, enviou dois legados romanos: Vito e Vicente.
As discussões foram marcadas pelo embate entre duas forças: de um lado, os partidários do erro, organizados por Ario; de outro, os defensores da ortodoxia, liderados moralmente por Atanásio, então diácono.
Ele demonstrava que a Redenção só tem sentido se Cristo é Deus verdadeiro, gerado e não criado, consubstancial ao Pai. Sem isso, o cristianismo perde seu fundamento.
O Credo de Nicéia: pedra angular da fé
Foi Atanásio quem conduziu os padres conciliares à formulação da doutrina com o uso do termo homoousios (consubstancial), consagrando no Credo o ensinamento: “gerado, não criado, consubstancial ao Pai”.
A heresia foi formalmente condenada. Mas o fim do concílio, em 25 de agosto de 325, não significou o fim da crise.
Logo após o encerramento, três bispos, entre eles Eusébio de Nicomédia, retiraram sua assinatura dos documentos.
A disputa ariana reacendeu-se com violência e por mais de cinquenta anos a Igreja atravessou um período de intensas turbulências.
Além dos arianos abertos, surgiram os “semi-arianos”, que negavam a plena divindade do Filho, tentando formular doutrinas ambíguas que pareciam conciliadoras, mas, na prática, desfiguravam a fé católica.
Os campeões da ortodoxia
Foram figuras como Santo Atanásio e Santo Hilário de Poitiers que, à custa de calúnias, exílios e prisões, sustentaram a verdadeira fé. Eles foram chamados fanáticos, mas foram os guardiões da ortodoxia.
Como observa Roberto de Mattei, foi graças a esse pequeno grupo de campeões da verdade que a Igreja não apenas sobreviveu, ela saiu fortalecida.
Hoje, o mundo precisa de novos Atanásios.
Ajude-nos a formar e fortalecer almas fiéis que não temam defender a fé católica, mesmo diante do mundo.
Faça parte desta resistência espiritual.
O paralelismo com a crise atual
O Papa Bento XVI, em sua análise da crise pós-Concílio Vaticano II, recorreu a uma imagem usada por São Basílio no século IV: uma batalha naval travada durante a noite, em meio a uma tempestade.
Assim como naquela época, a confusão doutrinária se espalha e o erro se disfarça de progresso, misericórdia e diálogo.
O Papa Leão XIV parece ter essa imagem presente ao programar uma viagem à Nicéia para recordar aquele concílio.
Mais do que uma homenagem histórica, trata-se de um gesto simbólico de governo, reafirmando a necessidade de restaurar a unidade não em torno de compromissos frágeis, mas da verdade eterna da fé católica.
Um desafio semelhante
O que está em jogo hoje não é menos grave.
A heresia atual talvez não tenha um nome único, mas age de modo mais insidioso: relativizando os dogmas, banalizando os sacramentos, enfraquecendo a autoridade moral da Igreja e obscurecendo a divindade de Nosso Senhor.
Em nome da “inclusão” e do “diálogo”, nega-se a exigência da conversão e da santidade.
Se a fé está em risco, não podemos ser neutros.
Ajude-nos a reacender a luz da verdade onde a escuridão já se instalou.
Seja um Filho Protegido e leve esta missão adiante.
Se Leão XIV se inspirar em Atanásio, espera-se que sua ação vá além das palavras. Não basta denunciar o erro, é necessário confirmar os fiéis na verdade e resistir aos compromissos que corrompem a fé.
A missão é árdua, mas o exemplo dos santos nos mostra que a fidelidade da Igreja não depende de números, mas da coragem dos justos.
Conclusão: voltar às origens da fé
A história de Nicéia nos ensina que a ortodoxia não se impõe pela força, mas pela clareza e firmeza dos que creem.
O triunfo da verdade, como há 1700 anos, depende de vozes firmes que proclamem com convicção: consubstantialem Patri. Cristo é verdadeiro Deus.
Essa é a pedra sobre a qual a Igreja está edificada, e contra a qual as portas do inferno não prevalecerão.
A história está nos chamando a testemunhar a fé sem concessões.
Você pode fazer parte dessa obra, com sua oração e generosidade.





