O sangue, a lei e o silêncio: três armas diferentes contra a mesma fé.

Das florestas do Congo às capitais da Europa, dos mosteiros da Índia às paróquias brasileiras, o drama dos cristãos perseguidos continua a se repetir sob diferentes rostos.
Uns são mortos ou sequestrados; outros, silenciados por leis, censura ou violência simbólica.
Mas todos têm em comum o mesmo crime: crer em Jesus Cristo. E o mesmo inimigo: o ódio que não suporta a Cruz.
Nos lugares onde a perseguição é aberta, a fé é provada pelo sangue; onde ela é disfarçada, é provada pela solidão e pelo desprezo.
Ambas ferem o mesmo Corpo místico, e por isso pedem a mesma resposta: oração, ação e coragem.
Este relato semanal começa pelas notícias da perseguição cruenta, quando a fé se paga com o sangue. E segue com as da perseguição incruenta, que fere com leis, censura e desprezo cultural.
Na República Democrática do Congo (RDC), um novo massacre em Ntoyo.
Na noite de 8 para 9 de setembro de 2025, militantes do grupo jihadista Allied Democratic Forces (ADF), originário de Uganda e aliado do autodenominado Estado Islâmico, atacaram a vila de Ntoyo, na província de North Kivu, no leste do país.
Segundo o Vatican News, ao menos 89 cristãos foram mortos durante uma vigília fúnebre.
A organização católica Aid to the Church in Need (ACN) confirmou que casas foram incendiadas e várias famílias inteiras dizimadas.
A agência de proteção aos cristãos perseguidos Open Doors International relatou que mais de 100 cristãos foram mortos em ataques sucessivos na mesma região.
“É um genocídio silencioso contra os cristãos da África Central”, denunciou a ACN em comunicado de 12 de setembro de 2025.
Poucos dias depois, em Lufodu, na região do território de Beni, militantes da ADF voltaram a agir: 20 pessoas foram assassinadas, segundo o International Christian Concern (ICC).
Os agressores entraram nas casas durante a noite e abriram fogo, incendiando a aldeia.
O padrão é o mesmo em Komanda, província de Ituri, no nordeste do país. Em 27 de julho de 2025, 43 fiéis foram mortos dentro da Igreja Católica de Santa Anuarite.
A agência Zenit News chamou o conjunto de ataques de “genocídio por omissão”, dada a inércia do governo congolês e da comunidade internacional.
Na Nigéria, as aldeias cristãs seguem sob ataque.
No Estado de Plateau, região central do país, seis cristãos foram mortos em 14 de setembro de 2025 durante uma invasão noturna de milícias fulani, conforme o ICC. As vítimas foram executadas a tiros e casas foram incendiadas.
A Open Doors lembra que a Nigéria continua sendo um dos países mais perigosos do mundo para cristãos, com centenas de mortos por ano em ataques étnico-religiosos.
Na Índia, a perseguição assume formas legais e policiais.
Em 25 de julho de 2025, as irmãs Preeti Mary e Vandana Francis, da Congregação das Irmãs de Assis, foram presas na estação ferroviária de Durg, no estado de Chhattisgarh, sob acusação de “conversão forçada e tráfico humano”.
Segundo o Catholic News Service of India e o International Christian Concern, as religiosas viajavam legalmente com mulheres adultas e possuíam todos os documentos exigidos, mas foram presas após denúncia de grupos radicais.
O caso provocou protestos da Igreja de Kerala e foi denunciado pela ACN como “uso político das leis anticonversão”.
O estado de Rajasthan, no noroeste do país, promulgou recentemente uma nova lei anticonversão que, segundo a organização Release International, tem sido usada para legitimar ataques contra igrejas e orações domésticas.
Cristãos foram espancados e acusados de “converter hindus à força”, mesmo sem provas.
A lei prevê até 10 anos de prisão para quem for julgado culpado.
No estado de Manipur, no nordeste indiano, o conflito entre as etnias Meitei, majoritariamente hindu, e Kuki-Zo, majoritariamente cristã já provocou a destruição de mais de 380 igrejas desde 2023, segundo o Hindustan Times e a ACN.
Embora o governo tente reduzir o conflito à questão étnica, os padrões de destruição mostram motivação também religiosa.
É essa fé inquebrantável que nos inspira a agir e não ficar em silêncio. Apoie esse apostolado que divulga a situação dos cristãos perseguidos em todo o mundo.
No Paquistão, a fé continua sob a espada da assim chamada blasfêmia.
Em Islamabad, um líder cristão foi baleado em 21 de setembro de 2025. Segundo a Radio Veritas Asia, dois homens em motocicleta abriram fogo, ferindo-o na perna. Ele sobreviveu milagrosamente.
Na mesma semana, outro lider cristão, preso há 13 anos sob acusação de blasfêmia, foi finalmente absolvido pela Corte Superior de Lahore, de acordo com o Christian Today India.
A decisão reconheceu que não havia provas, mas a longa prisão já o havia castigado injustamente.
Na China, o controle estatal sobre a fé se intensificou.
A organização Persecution.org e a Aid to the Church in Need (ACN) relatam que o governo chinês ampliou, desde meados de 2025, a campanha de “sinicização das religiões”, isto é, a tentativa de submeter toda prática religiosa à ideologia oficial do Partido Comunista.
Em Wenzhou, província de Zhejiang, cerca de 90% das igrejas católicas que se recusam a serem controladas pelo governo foram fechadas.
Padres e fiéis que não aceitaram integrar a Associação Patriótica Católica Chinesa, órgão estatal que supervisiona o clero e o conteúdo das homilias, foram detidos.
A U.S. Commission on International Religious Freedom (USCIRF) classificou a China, em seu relatório de 2025, como “um dos piores violadores sistemáticos da liberdade religiosa no planeta”.
O Council on Foreign Relations (CFR) documenta a remoção de cruzes, a demolição de templos e o uso de câmeras de reconhecimento facial até mesmo em igrejas oficialmente registradas.
“Na China, o Estado quer um cristianismo sem Cristo. Obediente, censurado e politicamente útil”, afirma relatório da ACN de agosto de 2025.
Agora, passamos à perseguição incruenta. Aquela que não mata o corpo, mas tenta calar a fé por meio de leis, censuras e profanações.
Na França, um grave ato de censura marcou o início de outubro.
A empresa estatal de transportes vetou, em 2 de outubro de 2025, a campanha publicitária do filme Sacré-Cœur, que narra as aparições de Jesus a Santa Margarida-Maria Alacoque.
O motivo alegado: o material seria “confessional e proselitista”, contrariando a assim chamada “neutralidade do serviço público”.
Alliance Defending Freedom (ADF International) denunciou o ato como “um sinal da nova intolerância laicista europeia”.
No Reino Unido, igrejas em chamas lembram que a violência simbólica também fere.
No condado de Norfolk, leste da Inglaterra, a histórica Igreja de São João Batista, construída em 1843, foi destruída por um incêndio.
A BBC News Norfolk informou que a polícia ainda apura as causas do incêndia, o fato é que o episódio ocorre em meio a uma série de ataques e profanações a templos cristãos nos últimos meses.
Na Espanha e na Finlândia, a perseguição se veste de toga.
A ADF International acompanha o caso da deputada finlandesa Päivi Räsänen, acusada de “discurso de ódio” por citar a Bíblia.
Seu novo julgamento está marcado para 30 de outubro de 2025, na Suprema Corte da Finlândia.
Na Espanha, o padre Custodio Ballester continua respondendo processo por “crime de ódio” após criticar o islamismo radical em 2016. Ambos os casos representam o avanço da perseguição legal e cultural, que criminaliza o ensinamento cristão sob o pretexto de tolerância.
Nos Estados Unidos, cresce um esvaziamento espiritual.
Relatórios da Faith Communities Today mostram que o país pode registrar o fechamento de até 15 000 igrejas em 2025, o maior número da história.
Segundo o Pew Research Center, 29% dos americanos se declaram sem religião. Em 2007, eram apenas 16%.
Essa tendência reflete o avanço de uma perseguição silenciosa: a marginalização cultural da fé, não por armas, mas por indiferença e ridicularização.
No Chile, o documentário “Ardieron en Silencio” (“Arderam em silêncio”), produzido por ACN Chile e o jornal El Líbero, mostrou que 296 igrejas foram incendiadas entre 2013 e 2025, especialmente na Região da Araucanía e na Região Metropolitana de Santiago.
“Cada igreja incendiada é um atentado à liberdade de todos”, declarou Magdalena Lira, diretora da ACN Chile.
No Brasil, a hostilidade também se manifesta.
No bairro Andaraí, zona norte do Rio de Janeiro, criminosos telefonaram para igrejas exigindo R$ 1.000 de “taxa” para que continuassem funcionando.
As paróquias São José, Nossa Senhora das Dores e São Cosme e Damião receberam ameaças, segundo o portal G1 Rio, e muitas missas foram canceladas por medo.
Em Guarapuava, no estado do Paraná, o Santuário de Schoenstatt teve o sacrário violado, com hóstias consagradas e um ostensório furtados.
O bispo Dom Amilton Manoel da Silva classificou o ato como “grave ofensa ao próprio Cristo presente na Eucaristia”.
A perseguição cruenta derrama sangue nas aldeias africanas; a incruenta, derrama silêncio nos parlamentos europeus.
Diante de tanta dor, não podemos permanecer em silêncio. Faça uma doação agora e ajude-nos a dar voz aos cristãos que sofrem e são esquecidos.
Em ambos os casos, quem é cristão é empurrado para o canto — ou para o cemitério.
A África enfrenta o martírio físico; a Europa, o martírio social. A Ásia mistura ambos: padres presos, fiéis vigiados, igrejas demolidas.
E nas Américas, a fé sofre a erosão da indiferença e a zombaria dos novos ídolos.
Um chamado à oração e à coragem
Hoje, como nos tempos dos mártires, o cristianismo é provado pelo fogo. O fogo das armas, o fogo do ódio, o fogo do esquecimento.
Mas o sangue dos que sofrem por Jesus Cristo não se perde: ele se transforma em semente de fé e em acusação contra a indiferença do mundo.
Rezemos juntos, com fé que não se dobra e esperança que não se cansa:
Pelas vítimas dos massacres na República Democrática do Congo, e pelos missionários que ainda permanecem em North Kivu, semeando o Evangelho entre as cinzas.
Pelos cristãos da Índia e da China, que vivem sob vigilância, prisão e leis que tentam apagar o nome de Jesus.
Pelos sacerdotes e fiéis do Paquistão, condenados por rezar, e pelos que os defendem com coragem diante dos tribunais.
Pelos católicos do Brasil, feridos pelas profanações e ameaças, para que respondam com fé e reparação.
E por todos os cristãos do Ocidente, para que resistam à tentação do silêncio e da conveniência.
Que o Espírito Santo nos dê a coragem dos mártires, a constância dos confessores e a fé das primeiras comunidades, que não temiam o império nem a multidão.
Porque ainda hoje — sob fogo e sob processo — o cristão é chamado a escolher entre calar-se ou confessar.
E o mundo inteiro espera o eco de nossa resposta.
Que sua voz também faça parte dessa resposta. Faça uma doação e ajude-nos a sustentar os que mantêm viva a fé, mesmo entre as cinzas da perseguição.





