Um gesto simbólico em defesa da fé e da civilização cristã

O artigo a seguir desenvolve, com liberdade de estilo, os argumentos centrais apresentados pelo Prof. Roberto de Mattei — historiador italiano e presidente da Fundação Lepanto — em sua análise publicada hoje na Corrispondenza Romana.
Trata-se de um tema importante para o futuro da Igreja: o retorno do título “Patriarca do Ocidente” e o que ele revela sobre a missão da Sé Romana em tempos de crise espiritual e cultural.
Um título esquecido que voltou a ocupar seu lugar
Entre os muitos títulos históricos atribuídos ao Papa, um voltou a despertar atenção nos últimos tempos: “Patriarca do Ocidente”.
Esse título, de raízes antiquíssimas, havia sido discretamente retirado do Anuário Pontifício em 2006, no pontificado de Bento XVI.
No entanto, reapareceu em 2024, por decisão do Papa Francisco.
Esse gesto aparentemente discreto está longe de ser irrelevante. Ele levanta perguntas importantes:
Por que recuperar esse título? Qual seu verdadeiro significado? E o que ele nos diz sobre o futuro da Igreja e da civilização ocidental?
Origem e sentido do título
O título foi usado oficialmente pela primeira vez pelo Papa Teodoro I, em 642, e passou a integrar o Anuário Pontifício a partir de 1863, sob Pio IX.
Seu objetivo era destacar a missão do Papa à frente da Igreja latina, ou seja, a porção ocidental da cristandade.
Contudo, o título nunca significou uma limitação de autoridade. A Igreja de Roma sempre afirmou sua jurisdição universal, sobre o Ocidente e o Oriente.
Mas após o cisma de 1054, os cristãos ortodoxos passaram a rejeitar esse primado, considerando o Papa apenas um entre cinco patriarcas da chamada “pentarquia”.
Nesse sistema, o Bispo de Roma seria apenas um primus inter pares, sem autoridade sobre os demais.
A remoção em 2006 e a reação dos ortodoxos
A retirada do título por Bento XVI foi vista como uma afirmação do primado universal do Papa, e gerou reações críticas no mundo ortodoxo.
Hilarion Alfeyev, representante da Igreja Ortodoxa Russa junto à União Europeia, disse que seria mais coerente eliminar os títulos de “Vicário de Cristo” ou “Sucessor de Pedro”. E não o de “Patriarca do Ocidente”, mais tolerável aos ortodoxos.
Como ressalta o Prof. Roberto de Mattei, o problema dos ortodoxos não está no título em si, mas na própria ideia de primado papal, o que eles não aceitam.
Francisco, sinodalidade e estratégia diplomática
O retorno do título em 2024 pode ter sido um gesto de abertura diplomática.
Desde o início de seu pontificado, Papa Francisco evitou títulos papais que soem autoritários, preferindo se apresentar como “Bispo de Roma”.
Mas esse gesto também parece se inserir em sua proposta de “sinodalidade”, um modelo de governo inspirado nas estruturas orientais, onde há maior descentralização e autonomia regional.
Essa visão é defendida por teólogos progressistas como Giuseppe Alberigo e Alberto Melloni, membros da Escola de Bolonha, que enxergam o Concílio Vaticano II como uma ruptura com a tradição.
Ambos propõem uma Igreja com autoridade repartida entre diversas regiões e patriarcados. Melloni, inclusive, já pedia desde 2014 a restauração do título de Patriarca do Ocidente.
Leão XIV: clareza doutrinária e consciência do primado
Com a eleição de Leão XIV, em 2025, observa-se uma mudança clara de tom.
Em seus primeiros pronunciamentos, o novo Papa assumiu abertamente os títulos tradicionais: “Vicário de Cristo”, “Sucessor de Pedro” e reafirmou a missão da Igreja de Roma como “Mater omnium Ecclesiarum”, Mãe de todas as Igrejas.
Acenda esta vela como sinal de sua oração pelo Papa recém-eleito, pedindo a Nossa Senhora que o acompanhe desde o início de seu pontificado.
Que este novo sucessor de Pedro seja um fiel servidor de Nosso Senhor Jesus Cristo, defensor da verdadeira Fé e pastor zeloso da Igreja Católica.
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Para o Prof. De Mattei, isso marca um retorno à compreensão tradicional do papado: o Papa como guardião da fé e da civilização cristã ocidental.
Neste contexto, o título de “Patriarca do Ocidente” não é concessão aos ortodoxos, mas afirmação de identidade e missão.
O que é o Ocidente hoje?
Ocidente, hoje, não é apenas uma noção geográfica. Como explicou o então Cardeal Joseph Ratzinger, futuro Bento XVI, trata-se de um conceito cultural e espiritual.
É a herança da Europa cristã, berço de uma civilização moldada pela fé, pela moral cristã e pela missão universal da Igreja.
O Papa, como Patriarca do Ocidente, não representa apenas uma jurisdição: representa a defesa dessa civilização, hoje profundamente ameaçada por ideologias anticristãs que corroem os alicerces dessa herança.
Leão XIV, ao reassumir os títulos papais clássicos, indica que compreende a gravidade do momento.
Verdade e justiça: fundamentos da verdadeira paz
Em seu discurso ao corpo diplomático, Leão XIV afirmou com clareza:
“A paz verdadeira nasce da verdade e da justiça, e não de compromissos frágeis.”
Ele retomou o ensinamento de Santo Agostinho:
“Todos desejam a paz, até mesmo quando fazem a guerra. Mas ninguém quer a guerra ao fazer a paz.”
Segundo De Mattei, essa postura mostra que só a Igreja só pode ser ponte entre Oriente e Ocidente se for fiel à verdade. E que esta aproximação não pode ser construída sobre ambiguidade doutrinária, mas sobre a caridade unida à clareza da fé.
Espiritualidade oriental e purificação do Ocidente
No jubileu das Igrejas Orientais, Leão XIV destacou a importância de redescobrir práticas espirituais orientais: a penitência, o jejum, a intercessão constante e o choro pelos pecados.
Ele propôs que o Ocidente cristão reaprenda com o Oriente a dar a Deus o primeiro lugar.
Esse resgate espiritual pode favorecer a reconciliação entre as Igrejas, desde que feito sem renúncia à verdade católica.
São Leão Magno: um modelo para hoje
O nome escolhido por Leão XIV remete ao grande Papa Leão I, o primeiro da história a ser chamado de “Magno”.
No século V, foi ele quem enfrentou, com coragem e sabedoria, a ameaça de Átila, o rei dos hunos, protegendo Roma e salvando o Ocidente.
Foi também um defensor inflexível da doutrina e da unidade da Igreja. O título “Patriarca do Ocidente” foi usado pela primeira vez, ao que parece, em uma carta do imperador Teodósio a Leão I.
Esse exemplo histórico inspira o novo Papa, que assume não apenas um nome, mas uma missão: proteger a fé e a civilização cristã em tempos de escuridão e confusão.
A Igreja precisa de clareza, coragem e fidelidade ao seu Fundador. O título de “Patriarca do Ocidente”, longe de ser um detalhe burocrático, simboliza essa vocação.
Que Leão XIV possa, como Leão I, ser um verdadeiro Patriarca: não apenas no título, mas na ação.
Um farol para o Ocidente cristão, ameaçado por dentro e por fora, e um elo entre a fé de sempre e os desafios de hoje.
Acenda esta vela como sinal da sua súplica a Nossa Senhora, pedindo que sustente Leão XIV com coragem, sabedoria e fidelidade à Verdade.
Que ele seja, como São Leão Magno, um verdadeiro patriarca do Ocidente, defensor da fé e guardião da civilização cristã.





