Como a perseguição aos cristãos assume formas distintas para atingir o mesmo fim.

Nesta semana, o relato da secção Cristofobia da Associação Regina Fide apresenta dois grandes cenários, distintos na forma, mas convergentes no propósito.
De um lado, o Ocidente, onde a perseguição aos cristãos se manifesta por meio de instrumentos jurídicos, culturais, administrativos e artísticos.
De outro, o Oriente, onde essa mesma perseguição se impõe por leis religiosas, repressão estatal e violência aberta.
A perseguição é a mesma, o que muda é o modo como ela se apresenta.
No Ocidente, o objetivo é expulsar Jesus Cristo da vida pública, apagando seus sinais, sua memória e sua influência cultural. A cristofobia assume a aparência de neutralidade institucional, critérios técnicos, liberdade artística ou políticas públicas ditas inclusivas.
A fé não é formalmente proibida, mas recursos são cortados, símbolos cristãos são censurados, o sagrado é banalizado, o vandalismo é tolerado e os ataques são minimizados.
Jesus Cristo não é negado frontalmente: é empurrado para fora do espaço comum, tratado como incômodo cultural e como herança a ser superada.
No Oriente, a perseguição é direta e cruenta. Confessar Cristo pode significar prisão, expulsão da própria terra ou sentença de morte.
Leis de blasfêmia, vigilância estatal, tribunais ideológicos e grupos extremistas atuam de forma aberta e impiedosa. Aqui, o cristão não é apenas silenciado: é perseguido até o limite do martírio.
As notícias reunidas a seguir demonstram que a cristofobia deixou de ser episódica. Ela se tornou estrutural, atravessando continentes e regimes. Este não é um artigo de opinião, mas um registro factual do que está acontecendo agora.
Registrar e tornar públicos esses fatos exige trabalho contínuo, apuração rigorosa e independência.
É por isso que a Associação Regina Fide mantém esta seção ativa: para que a perseguição aos cristãos não seja ocultada, relativizada ou esquecida.
Doe aqui para que continuemos denunciando esses fatos com seriedade e fidelidade à verdade.
I. PERSEGUIÇÃO RELIGIOSA NO OCIDENTE
*** Crescente onda de ódio anticristão na Europa
A Europa vive um crescimento sem precedentes de ataques contra cristãos. Em um único ano, mais de 2.200 atos anticristãos foram registrados, incluindo mais de 270 agressões físicas.
Igrejas profanadas, cruzes destruídas, presépios proibidos e orações censuradas tornaram-se rotina.
O assassinato de Ashur Sarnaya, refugiado cristão iraquiano morto na França por causa de seu apostolado, representa o grau extremo dessa violência.
A ECLJ (European Centre for Law and Justice) confirma que não existe hoje um mecanismo jurídico europeu específico para proteger cristãos, favorecendo a banalização da cristofobia.
A entidade exige que o combate ao ódio anticristão seja incluído oficialmente na agenda das instituições europeias.
*** Presépio censurado e apagamento do nome de Jesus em escolas italianas
A Prefeitura de Gênova decidiu retirar o presépio da sede municipal sob o argumento de “neutralidade institucional” e exclusão de referências religiosas do espaço público.
A medida gerou forte reação popular e foi revertida após intensa mobilização social.
A administração confirmou que o presépio será instalado no Palácio Rosso, em local visível ao público, após milhares de assinaturas reunidas pela associação Pro Italia Cristiana.
O episódio demonstrou que uma reação organizada ainda pode conter o avanço do apagamento simbólico, embora a disputa cultural permaneça aberta.
A petição “Giù le mani dal Santo Natale!”, promovida pela Associação Pro Italia Cristiana, afirma que o presépio não é instrumento ideológico, mas a representação pública da Natividade de Nosso Senhor Jesus Cristo, fundamento da fé cristã e pilar da identidade histórica do Ocidente.
A associação convoca a uma resistência contra a falsa neutralidade que, na prática, significa exclusão da fé cristã.
Em Carate Brianza, no norte da Itália, professoras de um jardim de infância retiraram o nome de Jesus das canções de Natal, esvaziando deliberadamente o sentido da celebração. Casos semelhantes se multiplicam também fora da Itália.
*** Exposição blasfema no Künstlerhaus, Viena
Uma exposição realizada no Künstlerhaus, em Viena, apresentou obras que ofendem diretamente símbolos centrais da fé católica.
Entre elas, a imagem de um sapo verde crucificado, zombando da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo; um homem barbado vestido como Nossa Senhora, segurando uma criança; e uma releitura da Pietà que retrata a Virgem Maria em completa nudez.
A exposição transformou o sagrado em objeto de escárnio público. A liberdade artística não inclui o direito de humilhar deliberadamente uma religião específica.
O episódio constitui um caso inequívoco de cristofobia e expressa a perseguição religiosa cultural hoje protegida por instituições públicas e pelo discurso artístico.
*** União Europeia corta financiamento de associação católica
A União Europeia suprimiu integralmente o financiamento da Federação das Associações de Famílias Católicas na Europa (FAFCE) por esta se recusar a alinhar-se à ideologia de gênero promovida pelas instituições europeias, rotulada como “diversidade” e imposta como condição para acesso a recursos públicos.
A FAFCE denuncia a decisão como discriminação ideológica direta contra uma organização católica que defende a família fundada no matrimônio entre homem e mulher.
A eurodeputada húngara Kinga Gál classificou a medida como uma das formas mais graves de discriminação institucional, afirmando que, em Bruxelas, defender a família como célula básica da sociedade passou a ser considerado inaceitável.
O corte atingiu projetos ligados aos programas Erasmus+ e CERV, voltados à proteção infantil e ao bem-estar juvenil, incluindo ações contra a pornografia e a solidão entre jovens.
A Comissão Europeia justificou a decisão alegando falhas na abordagem de igualdade de gênero, sem apresentar provas concretas, provocando uma grave crise financeira na associação.
*** Reino Unido: oração silenciosa criminalizada em via pública
No Reino Unido, a voluntária cristã e pró-vida Isabel Vaughan-Spruce foi denunciada criminalmente por permanecer em silêncio e rezar em via pública, nas proximidades de uma clínica de aborto em Birmingham.
Ela oferecia orações pelas mulheres que recorrem ao aborto, sem palavras, gestos ou qualquer forma de abordagem.
A acusação foi apresentada pela polícia de West Midlands e pelo Ministério Público com base na nova lei nacional das chamadas “zonas de exclusão”, em vigor desde outubro de 2024.
A norma proíbe qualquer forma de “influência” num raio de 150 metros desses locais, interpretação que passou a incluir a simples oração silenciosa.
Este é o primeiro processo criminal aberto com base nessa legislação. Vaughan-Spruce comparecerá ao tribunal em 29 de janeiro de 2026, com apoio jurídico da ADF International.
Isabel reza pacificamente no mesmo local há mais de vinte anos. O caso confirma a criminalização da oração silenciosa e da fé cristã no espaço público, estabelecendo um precedente claro de censura religiosa no Ocidente.
*** Ataques sistemáticos contra igrejas na Alemanha
O estado alemão de Baden-Württemberg registrou 849 ataques contra igrejas e capelas em um único ano, segundo dados oficiais.
Os crimes causaram prejuízo estimado em 275 mil euros e atingiram templos urbanos, capelas rurais, mosteiros e prédios administrativos ligados às igrejas cristãs.
Esses ataques visam diretamente locais sagrados, associados à oração e ao acolhimento espiritual. Comunidades cristãs passaram a reforçar medidas de segurança para proteger templos que, por vocação, deveriam permanecer abertos.
*** Vandalismo em igreja no Brasil
Em Vitória (Espírito Santo), uma mulher invadiu a igreja Santa Rita de Cássia e destruiu imagens sacras e objetos do altar. O ataque foi registrado por câmeras de segurança.
A Arquidiocese de Vitória classificou o episódio como uma agressão grave ao espaço sagrado e à fé da comunidade, confirmando que a hostilidade contra igrejas cristãs também avança no Brasil.
II. PERSEGUIÇÃO RELIGIOSA NO ORIENTE
*** Hong Kong: o caso Jimmy Lai e a repressão aos católicos
A condenação do empresário e jornalista católico Jimmy Lai, em 15 de dezembro de 2025, constitui um marco da repressão política e religiosa em Hong Kong sob o domínio do Partido Comunista Chinês.
Aos 78 anos, Lai foi considerado culpado de três acusações ligadas à chamada “segurança nacional”, após dois anos de julgamento. Ele enfrenta a possibilidade real de prisão perpétua.
As autoridades o acusam de “colusão com forças estrangeiras” e de incitar oposição ao regime, acusações recorrentes usadas para neutralizar dissidentes e líderes cristãos.
Católico praticante, Lai sempre afirmou que sua resistência pública nasce da fé, vivida como dever de consciência.
Fundador do jornal Apple Daily, hoje interditado, Jimmy Lai está preso desde 2020 e mantido em isolamento.
A presença do cardeal Joseph Zen, bispo emérito de Hong Kong, no tribunal durante o julgamento evidenciou o caráter religioso do processo e a solidariedade pastoral da Igreja diante de uma condenação política.
Desde os protestos de 2019, cristãos em Hong Kong passaram a viver sob vigilância crescente, enquanto o princípio “um país, dois sistemas” foi progressivamente desmontado.
O caso Jimmy Lai simboliza o avanço da perseguição à Igreja e a tentativa de assimilá-la ao modelo repressivo imposto aos católicos da China continental.
*** Egito: documentos de identidade como instrumento de discriminação religiosa
No Egito, a exigência de que a religião conste nos documentos nacionais de identidade opera como um mecanismo estatal de discriminação e perseguição contra cristãos.
Embora a Constituição proclame a liberdade religiosa, o Estado falha sistematicamente em proteger os cristãos, omitindo-se diante de agressões e abusos.
O caso de Amira Butros demonstra essa realidade de forma inequívoca.
Após sofrer violência de vizinhos muçulmanos e ser acusada de converter pessoas ao cristianismo, a polícia recusou-se a registrar sua denúncia exclusivamente por ela ser cristã, forçando-a a fugir e a interromper seu trabalho pastoral.
O campo “religião” nos documentos oficiais facilita a exclusão direta de cristãos do acesso a empregos, universidades, serviços públicos e à justiça.
A legislação egípcia agrava essa perseguição ao impedir que muçulmanos convertidos ao cristianismo alterem sua religião nos documentos, enquanto conversões ao Islã são aceitas sem qualquer obstáculo.
Enquanto esse sistema permanecer em vigor, a perseguição aos cristãos continuará sendo estrutural e legalmente sustentada.
*** 3. Leis de blasfêmia como motor global da perseguição religiosa
As leis de “blasfêmia” são um dos principais instrumentos legais da perseguição religiosa no mundo, atingindo de forma direta cristãos e outras minorias. Essas normas criminalizam manifestações religiosas pacíficas e legitimam abusos estatais e violência popular.
A Nigéria figura entre os exemplos mais graves. Em doze estados do norte, regidos pela sharia, a blasfêmia é punida com pena de morte. Essas leis são aplicadas sobretudo contra cristãos e dissidentes, criando um clima permanente de medo e impunidade.
O músico sufi Yahaya Sharif-Aminu foi condenado à morte por expressar sua fé em uma mensagem de WhatsApp. A cristã Rhoda Jatau passou 19 meses presa por condenar o linchamento de uma estudante cristã assassinada por colegas.
Casos semelhantes se repetem no Paquistão, no Egito e na Argélia, onde cristãos são presos, torturados ou mortos com base em acusações frequentemente falsas.
*** Nigéria: perseguição extrema, martírio e denúncia episcopal
A Nigéria é o país mais letal do mundo para os cristãos. Todos os anos, milhares são assassinados simplesmente por ódio a fé.
Essa violência encontra respaldo tanto na ação de grupos armados quanto na própria legislação, especialmente nas leis de blasfêmia vigentes no norte do país.
Os bispos católicos nigerianos denunciam essa realidade de forma clara e pública. Dom John Bakeni, de Maiduguri, relatou a destruição de mais de 200 igrejas pela insurgência jihadista e o deslocamento de cerca de 1,8 milhão de pessoas.
No Middle Belt, dom Wilfred Anagbe denunciou ao Congresso dos EUA massacres sistemáticos contra comunidades cristãs. A Conferência Episcopal da Nigéria condenou formalmente os “massacres bárbaros” de civis inocentes.
Casos emblemáticos expõem o alcance dessa perseguição. Em 2022, a estudante cristã Deborah Emmanuel Yakubu foi apedrejada e queimada viva após agradecer publicamente a Jesus por ter passado em um exame.
A fé cristã, na Nigéria, custa vidas. Negar o caráter religioso dessa violência significa abandonar comunidades inteiras ao martírio silencioso.
*** Sul da Ásia: violência sistemática contra cristãos na Índia e no Paquistão
No Sul da Ásia, a violência contra cristãos cresceu de forma contínua e organizada. No Parlamento Europeu, em 4 de dezembro, foi apresentada uma denúncia formal dessa realidade em encontro organizado pela ADF International, com participação de eurodeputados e vítimas de perseguição.
Na Índia, mais de 600 ataques contra cristãos foram registrados entre janeiro e outubro de 2025, incluindo agressões coletivas, interrupção de cultos, humilhações públicas e destruição de casas e igrejas.
Leis anticonversão em vigor em doze estados criminalizam reuniões de oração e atividades religiosas pacíficas, punindo cristãos simplesmente por rezar ou ajudar o próximo.
No Paquistão, leis severas da chamada blasfêmia continuam a produzir prisões arbitrárias, linchamentos e ataques a comunidades cristãs. No último ano, mais de 300 novos casos foram abertos, muitos baseados em acusações falsas.
O mesmo padrão se repete em países vizinhos como Bangladesh, Nepal e Sri Lanka, onde o espaço público para o cristianismo está sendo progressivamente fechado.
A perseguição aos cristãos no Sul da Ásia não é episódica nem espontânea. Ela é sustentada por leis, tolerada por autoridades e aplicada com violência contra os mais vulneráveis.
*** Um mesmo alvo, em contextos distintos
O conjunto desses fatos deixa claro que a cristofobia não é fruto de excessos isolados, nem de conflitos pontuais, mas de um movimento contínuo e articulado que atravessa fronteiras, sistemas políticos e culturas.
No Ocidente, ela avança sob a forma de censura, ridicularização e exclusão institucional; no Oriente, pela violência aberta, pela lei injusta e pelo terror cotidiano.
Em ambos os casos, o alvo permanece o mesmo: Jesus Cristo presente na vida pública, reconhecido, honrado e professado sem vergonha. Diante disso, o silêncio não é neutralidade, mas cumplicidade.
Registrar, denunciar e lembrar esses episódios não é apenas um dever para com a verdade, mas um compromisso moral com aqueles que continuam pagando, muitas vezes com a própria vida, o preço de permanecer fiéis.
Este compromisso não pode ser sustentado apenas por indignação momentânea.
Ele exige constância, meios e apoio para que a denúncia continue quando o assunto deixa de ser manchete.
Doe agora e ajude a garantir que a perseguição aos cristãos continue sendo registrada e denunciada.
Por isso, escutemos com atenção estes sinais do nosso tempo, antes que a normalização do desprezo ao sagrado se torne irreversível e a ausência de Cristo no espaço público seja tratada como algo natural.
Neste Natal, ao contemplarmos o mistério da Encarnação, recordemos de modo especial aqueles que não podem celebrar livremente o nascimento de Cristo.
Rezemos pelos cristãos perseguidos, por suas famílias, por bispos, padres e fiéis que permanecem firmes mesmo sob ameaça, prisão ou violência. Que o Menino Deus lhes conceda consolação, fortaleza e esperança.
Desejamos a todos um Santo e abençoado Natal e um Ano Novo vivido na fidelidade à verdade.
Retornaremos no início do próximo ano com novos relatos, certos de que recordar, denunciar e rezar continuam sendo deveres essenciais enquanto Cristo for perseguido em seus membros.




