A história de um jovem que encontrou na dor a chave para sua verdadeira vocação
Um destino inesperado
Giacomo Gaglione nascera sob uma estrela de brilho intenso. Filho primogênito de uma nobre família de Caserta, crescera rodeado por atenção e mimos.
Jovem de porte aristocrático, beleza encantadora e espírito vibrante, tornara-se o centro das atenções femininas. O futuro lhe sorria, promissor e luminoso.
Contudo, a vida, em sua misteriosa pedagogia, o surpreendeu de forma cruel. Aos dezesseis anos, dores intensas no calcanhar anunciaram o que os melhores médicos da época não puderam deter: uma paralisia progressiva e irreversível. Em poucas semanas, Giacomo jazia imóvel em sua cama, dependente dos outros para cada gesto, até mesmo para alimentar-se.
O golpe mais doloroso
A esperança de recuperação o acompanhou por anos. Mais ainda: sustentava-se no amor que nutria por sua prima, jovem encantadora que lhe retribuía os afetos.
Ele a cobria de joias e promessas de um futuro compartilhado. Mas a esperança não resistiu à frieza das realidades mundanas.
A família da jovem interveio. O casamento era inviável. Um paralítico não poderia dar a ela a vida que merecia. O rompimento foi imposto. E então veio o abismo.
Em um ato desesperado, Giacomo tentou tirar a própria vida. Entregou-se a uma depressão cruel, recusando-se a viver. Blasfemava, revoltava-se contra Deus. Afinal, que sentido havia em existir se o amor lhe era negado? Durante sete anos, mergulhou em trevas interiores insondáveis.
O encontro que mudou tudo
Foi então que o nome de um frade capuchinho, desconhecido até então, lhe atravessou o caminho. Um artigo sobre as curas milagrosas do Padre Pio chegou-lhe às mãos. E com ele, a última centelha de esperança.
Giacomo decidiu ir a San Giovanni Rotondo. A família, temerosa do que poderia ocorrer se sua esperança fosse frustrada, tentou dissuadi-lo. Mas sua decisão era firme. Ele veria o santo frade.
A viagem foi penosa. Mas ao chegar ao convento e confessar-se com o estigmatizado, algo inesperado aconteceu. Padre Pio olhou para ele. Um olhar profundo, que transpassava a alma.
Nenhuma promessa de cura. Nenhuma palavra espetacular. Apenas um sorriso, sereno e puro como o de uma criança. Foi o suficiente.
O milagre oculto
Giacomo que tanto aguardara a cura, de repente, não a desejava mais.
O encontro com o homem de Deus desvendara-lhe o mistério do sofrimento. Na face marcada pelos estigmas, compreendeu o valor oculto da dor. Não estava condenado à inutilidade. Pelo contrário, possuía uma missão que transcendia o próprio corpo.
Ao voltar para casa, não havia mais lágrimas, nem blasfêmias. Havia alegria. Uma paz sobrenatural, que espantava a todos. Giacomo, o paralítico revoltado, agora sorria com uma felicidade que poucos no mundo experimentam.
O milagre se consumara. Mas não na forma de uma cura física. Algo infinitamente maior lhe fora concedido: a compreensão do sentido da cruz.
Um apóstolo da dor redentora
Giacomo passou a dedicar-se aos doentes. Criou o Apostolado do Sofrimento, inspirando incontáveis almas a transformar sua dor em redenção.
Como Padre Pio, que carregou os estigmas por cinquenta anos, ele também carregaria sua cruz por meio século, imóvel em sua cadeira-leito.
Com palavras e escritos, consolou milhares de enfermos. Escrevia em média 3.500 cartas por ano, alentando almas sofredoras. Organizou peregrinações, publicou artigos, inspirou movimentos de caridade. Nunca mais lamentou sua sorte. Seu sofrimento transformara-se em sacerdócio.
Morreu em maio de 1962, seis anos antes de seu guia espiritual. Pouco antes de sua morte, recebeu um último telegrama de Padre Pio, com palavras que encerravam toda a sua vida em uma síntese perfeita:
“Com Jesus na cruz, com Jesus no santo paraíso.”
Uma história que nos toca
O relato de Giacomo Gaglione nos recorda que os milagres nem sempre se manifestam na carne, mas sim na alma. O que Deus quer de nós não é, muitas vezes, o que desejamos, mas sim o que precisamos para alcançar a verdadeira paz.
Padre Pio, em sua sabedoria sobrenatural, viu que a cura física de Giacomo seria um pequeno bem comparado à grandeza de sua vocação. Ele não precisava andar; precisava ensinar o mundo a sofrer com amor.
Nós também carregamos nossas dores, grandes ou pequenas. E a história de Giacomo nos ensina que cada sofrimento pode ser oferecido, pode ser santificado e pode ser vivido como parte da Redenção.
***