A história do policial que encontrou sua vocação protegendo um santo
Era um policial, acostumado ao dever e à disciplina, mas sua alma estava inquieta. Luigi Bellora, um Carabinieri do Departamento de Polícia Estadual de Turim, vivia imerso nas obrigações cotidianas, sem perceber o vazio espiritual que crescia dentro de si.
Até que um pequeno gesto de um amigo mudou sua vida para sempre: a entrega de um livro sobre Padre Pio.
A leitura foi um choque de realidade. Ali, nas páginas da biografia do santo capuchinho, Luigi encontrou um espelho de sua própria vida negligenciada no que dizia respeito à fé.
Um chamado silencioso, mas irresistível, ecoou dentro dele, levando-o a reconsiderar suas prioridades e, mais ainda, a buscar pessoalmente aquele que tanto o impressionava.
A primeira visita ao santo de Pietrelcina
Em 1953, Luigi decidiu visitar o Padre Pio. A viagem a San Giovanni Rotondo foi apenas o começo de um caminho que se tornaria essencial para sua vida. Desde então, a cada oportunidade de folga, dirigia-se ao mosteiro de Nossa Senhora das Graças para estar perto do capuchinho.
Não demorou para que se tornasse um rosto conhecido entre os frades e os fiéis que frequentavam o local. No entanto, algo dentro dele o deixava inquieto. No confessionário, diante do olhar penetrante do santo, Luigi tremia. O medo da repreensão, talvez, ou o peso das próprias falhas.
- “Por que está tremendo? Acha que sou muito severo?”, perguntou-lhe Padre Pio, em certo dia, antes de lhe dar uma cutucada amistosa, arrancando-lhe um sorriso nervoso.
O policial sabia que o santo, por vezes, era duro em suas correções, mas também sabia que isso era um reflexo de seu amor pelas almas. Ainda assim, Luigi tinha dificuldades em aceitar críticas. Sentia-se magoado e, em um momento de impulsividade, decidiu partir.
Uma lição inesperada
Movido pelo ressentimento, Luigi pagou sua conta no hotel e dirigiu-se ao ponto de ônibus.
Mas, naquele dia, algo estranho aconteceu: o ônibus, que sempre parava ali, passou direto.
Sem escolha, teve de retornar ao hotel. O desconforto persistia e, para provar sua teimosia, decidiu que não iria à missa do Padre Pio na manhã seguinte.
Mas foi despertado de maneira inusitada: um forte golpe no ombro o fez saltar da cama. Não havia ninguém ali.
Lembrou-se, então, de que Padre Pio tinha modos misteriosos de ensinar suas lições. Ainda tentando digerir o que acontecera, foi convencido por um sacerdote hospedado no hotel a reconsiderar sua decisão e assistir à missa.
No mesmo dia, pediu desculpas ao Padre Pio. “Meu filho, tudo isso é passado. Vamos enterrá-lo e não pensar mais nisso”, disse o santo, encerrando a questão com sua habitual doçura.
O guarda da cela do santo
Luigi desejava servir Padre Pio de alguma maneira, e sua chance veio por meio do superior do convento, Padre Carmelo de Sessano. Este procurava alguém de confiança para um trabalho especial: proteger a cela do santo contra visitantes inoportunos.
O capuchinho estava doente e frágil, e muitos fiéis, na ânsia de vê-lo, chegavam a invadir sua privacidade.
Quem melhor do que um policial para essa missão?
Luigi aceitou sem hesitação. Durante os vinte e dois dias que se seguiram, ocupou-se fielmente do dever de manter a porta segura. Sentado em uma cadeira de vime no corredor, afastava qualquer um que tentasse ultrapassar os limites da clausura.
Uma amizade marcada por gestos singelos
O trabalho, no entanto, trouxe-lhe mais do que uma função: deu-lhe um lugar no cotidiano do santo. Luigi passou a compartilhar pequenos momentos com Padre Pio, participando até de seu café da manhã, onde o capuchinho, já sem forças para comer, lhe oferecia o alimento que não conseguia ingerir.
- “Luigi, você me ajudaria com isso? Não estou com apetite”, dizia-lhe, ao entregar uma gelatina fortificada preparada pelos médicos.
Luigi, por sua vez, fazia pequenas gentilezas ao santo. Em um dos dias, levou-lhe uma garrafa de cerveja gelada, algo que Padre Pio recebeu com surpresa e um toque de bom humor.
- “Mas como conseguiu isso para mim?”, perguntou-lhe.
- “Faço isso com toda minha devoção”, respondeu Luigi.
Era uma amizade simples, construída na caridade dos gestos cotidianos.
Sob o olhar vigilante de Deus
Quando chegou a hora de partir, Luigi sentiu um aperto no coração. Havia se acostumado àquele “paraíso”, como descrevia a vida perto de Padre Pio. Mas tinha de voltar para Turim e reassumir suas funções.
Na despedida, Padre Pio o beijou nas faces, como era costume italiano, e disse:
- “Querido Luigi, que Deus lhe recompense mil vezes por todo o bem que você me tem feito.”
Nos anos seguintes, Luigi continuou visitando o santo sempre que podia. Padre Pio, por sua vez, lhe deu um conselho espiritual que Luigi guardou como um tesouro: “Viva sempre sob o olhar vigilante de Deus.”
Palavras que vibram como um guia para qualquer um que deseje trilhar o caminho da fé.