Maria Corredentora e Medianeira: a Nota do Vaticano e a força da Tradição

A recente nota do Dicastério para a Doutrina da Fé, que desaconselha o uso do título “Corredentora” e relativiza, ainda que implicitamente, o conceito de Maria “Mediadora de todas as graças”, provocou surpresa e inquietação entre os católicos.

As reações não tardaram: leitores alarmados enviaram mensagens pedindo luz, contexto e um esclarecimento que restituísse serenidade.

Um deles escreveu, atônito:

“A Santíssima Virgem já não seria Corredentora… o que pensar dessa decisão do Vaticano?”

Outra leitora, percebendo no texto romano um distanciamento da linguagem tradicional, perguntou:

“Por que retirar da Mãe de Deus títulos aceitos e venerados há tanto tempo?”

E um terceiro resumiu a perplexidade geral com uma inquietação direta:

“Essas novas considerações sobre a Santíssima Virgem… afinal, o que devemos pensar?”

A estranheza é legítima.

O que a nota toca não é um adorno devocional, mas parte de um vocabulário teológico amadurecido ao longo de séculos, acompanhado por santos, doutores e papas, e profundamente assimilado pela piedade popular.

Uma distinção necessária

Para compreender o alcance da questão, é preciso recordar a distinção entre dogma, doutrina e verdade católica.

Dogma é a verdade revelada definida solenemente.

Doutrina é o conjunto mais amplo dos ensinamentos que a Igreja transmite de forma contínua, ainda que nunca formalizados em definição solene.

E há também certas verdades que, embora não proclamadas como dogmas, foram cridas “sempre, em todo lugar e por todos”.

Assim, por exemplo, a Igreja nunca ordenou mulheres ao sacerdócio nem ao diaconato.

Não existe definição dogmática sobre isso, mas trata-se de uma verdade católica transmitida de modo unânime. Negá-la não constitui heresia formal, mas é, ainda assim, um erro grave.

Quanto à Virgem Maria, quatro verdades já receberam definição dogmática: a Maternidade divina, a Virgindade perpétua, a Imaculada Conceição e a Assunção.

As doutrinas de Maria Corredentora e Maria Medianeira de todas as graças situam-se naquele segundo nível: não definidas, mas ensinadas de forma contínua e sólida ao longo da história da Igreja.

A Corredenção segundo o magistério

O termo “Corredentora” não nasceu em círculos marginais, nem por excesso de devoção, mas foi usado publicamente por papas de linguagem cuidadosa.

Pio XI afirmou, em 30 de novembro de 1933, que Maria cooperou na obra redentora “aceitando ser Mãe do Redentor, consentindo em todos os Seus atos redentores e oferecendo-O no Calvário”.

Bento XV, na carta Inter Sodalicia (1918), declarou que Maria “sofreu com o Filho até quase morrer, e por isso é justo dizer que ela redimiu com Cristo o gênero humano”.

A afirmação é forte, mas exprime precisamente a ideia teológica: não igualdade, mas colaboração.

O “co-” de Corredentora não significa “igual a Cristo”, mas “com Cristo”. Ele traduz a cooperação subordinada e real da Mãe no drama da salvação, um tema já presente nos primeiros séculos, quando Santo Irineu comparou Maria à nova Eva e escreveu que, pela obediência, ela “se tornou causa de salvação para si e para todo o gênero humano”.

A mediação universal da graça

A teologia mariana também reconhece em Maria a “Mediadora de todas as graças”, não como substituta de Cristo, mas como instrumento querido por Ele.

A ideia é simples. São Luís Maria Grignion de Montfort, o grande apóstolo da devoção à Santíssima Virgem, a formula com clareza luminosa: Deus quis dar o Salvador ao mundo por Maria; e quis que os frutos da Redenção chegassem aos homens pelo mesmo caminho.

Leão XIII, nos Actes du Saint-Siège, ensinou que Maria, tendo cooperado na Redenção, coopera igualmente na distribuição das graças que dela derivam.

São Bernardino de Sena formulou de maneira clássica: “Toda graça dada ao homem segue três etapas: de Deus ao Cristo, de Cristo à Virgem e da Virgem a nós.”

São Pio X, na encíclica Ad Diem Illum, descreveu Maria como “reparadora do mundo perdido e dispensadora de todos os dons”, após explicar que ela participou tão intimamente da Paixão do Filho que, se possível fosse, teria voluntariamente suportado todos os Seus tormentos.

É diante dessas verdades tão profundamente enraizadas na fé católica que o apelo de Fátima ressoa com ainda mais força. Nossa Senhora continua a pedir corações dispostos a amar, reparar e defender a missão que Deus confiou a Ela.

Clique aqui e una-se aos Missionários de Fátima, um grupo que trabalha pelo triunfo do Imaculado Coração que tantas graças derrama sobre o mundo.

A doutrina encontrou eco nos séculos seguintes.

São João Paulo II empregou inúmeras vezes o título “Corredentora”, e santos modernos — como Santa Teresa Benedita da Cruz, São Maximiliano Kolbe e Santa Gemma Galgani — sustentaram publicamente essa verdade.

A proposta de um quinto dogma mariano — a Mediação Universal de Nossa Senhora, frequentemente associada também aos títulos de Corredentora e Advogada — recebeu ao longo das últimas décadas um apoio expressivo: mais de setecentos bispos e cardeais subscreveram formalmente a iniciativa, acompanhados por milhões de assinaturas de fiéis provenientes de todos os continentes.

Trata-se de uma das petições doutrinárias mais amplas e persistentes da história recente da Igreja, sinal de que essa devoção não é um fenômeno localizado, mas uma convicção espiritual profundamente enraizada no sensus fidei do povo católico.

A base bíblica que não pode ser ignorada

A Escritura oferece um conjunto coerente de passagens:

• A profecia de Gênesis 3,15, que apresenta a Mulher cuja descendência esmagará a serpente;
• O “fiat” de Lucas 1,38, que inaugura a Encarnação;
• A profecia de Simeão em Lucas 2,34-35, indicando que uma espada transpassará a alma de Maria;
• A presença silenciosa e firme junto à cruz em João 19,25-27, onde Cristo entrega Maria à humanidade;
• A Mulher revestida de sol em Apocalipse 12, que combate o dragão e protege os filhos que “guardam os mandamentos de Deus”.

Esses textos, lidos em conjunto, formam o alicerce bíblico da doutrina da cooperação materna na Redenção e da mediação universal da graça.

Entre a Nota do Vaticano e a fé do povo de Deus

O contraste entre a Nota recente e a tradição milenar explica a perplexidade dos fiéis.

A linguagem nova parece romper com o que era contínuo. E, quando isso ocorre, o coração do povo cristão reage com natural instinto de fidelidade.

A história da Igreja mostra que pedidos por novas definições dogmáticas são frequentes e legítimos. A discussão sobre Maria Corredentora não é exceção.

A confusão momentânea não altera o essencial: a doutrina está ancorada na Tradição, e a Igreja, ao longo de dois mil anos, sustentou com notável unanimidade a participação singular de Maria na obra da salvação.

A Nota do Dicastério abre um debate, mas não o encerra.

Ela não revoga séculos de magistério ordinário, nem reconfigura a teologia mariana que moldou a espiritualidade católica através da voz dos santos, dos doutores e do próprio sensus fidei do povo.

O consenso, portanto, permanece: Maria é Corredentora e Medianeira — abaixo de Cristo, nunca acima — mas unida de modo único e inseparável à obra da Redenção.

Documentos podem suscitar debates, escolas podem divergir, terminologias podem variar.

Mas a fé da Igreja, enraizada no Evangelho e confirmada pelos séculos, não se desfaz com uma nota. A fé permanece. E permanece com Maria.

Em meio a debates e confusões, a resposta mais forte é sempre a mesma: viver os pedidos de Nossa Senhora e fazer triunfar o Imaculado Coração.

Torne-se um Missionário de Fátima e ajude a preservar, amar e difundir a verdadeira devoção mariana que a Igreja sempre ensinou.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Inscreva-se grátis

para receber os melhores conteúdos e orações

Últimos Posts

Search

Para mais informações ligue:

Ligação gratuita


Atendimento: segunda a sexta, das 8:00 às 18:00.

A ligação é grátis para todo o Brasil.

INSCRIÇÃO REALIZADA

Se você gosta dos conteúdos da Regina Fidei e deseja manter esta obra na internet, por favor, faça uma doação simbólica.

Acesse esta página 100% segura 

Dependemos unicamente da generosidade de pessoas como você para continuar este trabalho de apostolado.

Sua pequena contribuição, aqui, será um combustível para estimular ainda mais os voluntários, religiosos e colaboradores que se dedicam fielmente a resgatar a Fé Católica.

Obrigado e conte com nossas orações.

Equipe de Conteúdo Apostólico
Associação Regina Fidei