Relatório semanal sobre ataques à fé cristã, silêncio diplomático, resistência das comunidades e o dever de testemunho diante da perseguição.

A presente análise oferece um quadro atualizado da perseguição religiosa contra cristãos, com destaque nesta semana para a Nigéria, Índia, Paquistão, China e França.
Menciona-se de modo especial o sofrimento de mulheres e meninas cristãs em contextos de minoria religiosa, onde a fé se combina com fatores culturais e sociais que agravam os riscos.
As informações aqui reunidas provêm de fontes oficiais e eclesiais, testemunhos pastorais e relatórios internacionais independentes.
Nigéria — Violência persistente e diplomacia hesitante
No norte e no cinturão central da Nigéria, viver como cristão significa enfrentar risco constante.
Grupos armados como o jihadista islâmico Boko Haram, o Estado Islâmico na África Ocidental (ISWAP) e milícias fulanis de orientação islamista atuam em regiões onde a presença do Estado é limitada e a proteção das comunidades cristãs permanece frágil.
O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR / UNHCR) calcula mais de 3,5 milhões de deslocados desde 2009. A organização Intersociety registra aproximadamente 7 mil cristãos mortos em sete meses de 2025, e 185 mil vítimas desde o início da insurgência.
As denúncias dos bispos nigerianos compõe um conjunto coerente e austero:
Dom Oliver Dashe Doeme, Maiduguri: “Os cristãos são atacados por causa de sua fé. Muitas comunidades são visadas precisamente por serem cristãs.”
Dom John Bogna Bakeni, auxiliar de Maiduguri: “Nossa vida pastoral prossegue sob vigilância constante, e as comunidades permanecem firmes na fé enquanto enfrentam ameaças permanentes.”
Dom Matthew Hassan Kukah, bispo Sokoto: “Os cristãos vêm sendo mortos em razão de sua fé.”
Dom Ignatius Kaigama, arcebispo de Abuja: “Muitas áreas rurais cristãs carecem de proteção efetiva e enfrentam grupos armados organizados, o que as torna extremamente vulneráveis.”
A Conferência Episcopal da Nigéria (CBCN), presidida por Dom Lucius Ugorji, qualificou a violência como “múltipla em fatores, inequívoca em sua dimensão religiosa”.
Na contramão, o secretário de Estado do Vaticano, cardeal Pietro Parolin, declarou que “não se pode dizer que haja perseguição religiosa na Nigéria”, atribuindo o fenômeno a uma combinação “complexa” de fatores.
A afirmação repercutiu com inquietação entre missionários e agentes pastorais, que observam dissonância entre a prudência diplomática romana e a experiência imediata do terreno.
Segundo o Centro de Pesquisas Aplicadas no Apostolado da Universidade Georgetown (CARA), 94% dos católicos nigerianos afirmam participação semanal na missa.
Paróquias funcionam com vigilância comunitária e assistência a deslocados, expressando fé pública e coragem silenciosa em meio à violência.
Enquanto muitos arriscam a vida apenas por professar o nome de Cristo, nós podemos agir.
Índia — Nacionalismo religioso consolidado
Segundo a United Christian Forum (UCF), entre 2014 e 2024, os ataques anticristãos registraram um aumento de 500%, passando de 139 para 834 casos anuais; o período acumula cerca de 5 mil incidentes.
Somente de janeiro a setembro deste ano, foram registrados 579 ataques, com apenas 39 ações policiais.
Doze Estados indianos mantêm leis contra a assim chamada “conversão religiosa”, majoritariamente governados pelo Bharatiya Janata Party (BJP), dirigido pelo primeiro-ministro Narendra Modi.
Denúncias de “proselitismo forçado” são usadas como instrumento de mobilização social e coerção política.
O relatório de 2025 da Aid to the Church in Need (AIS / ACN) inclui a Índia entre os países onde há perseguição ativa.
A Comissão dos Estados Unidos sobre Liberdade Religiosa Internacional (USCIRF) recomendou classificar a Índia como país de especial preocupação (Country of Particular Concern — CPC), categoria reservada a violações sistemáticas de liberdade religiosa.
Os cristãos constituem cerca de 2% da população, e são especialmente expostos em áreas rurais onde denúncias se transformam em violência coletiva.
Paquistão — A “blasfêmia” como arma contra cristãos
No Paquistão, a lei da assim chamada “blasfêmia” opera como mecanismo de intimidação social.
Acusações, mesmo sem evidências, podem resultar em prisão imediata, represálias comunitárias e riscos à integridade física do acusado e de sua família.
Em agosto deste ano, o cristão Rasheed Masih, que havia denunciado episódios de corrupção local, foi detido sob acusações de insultar o Islã e posteriormente associado a delitos de “terrorismo” e “sedição”.
Organizações cristãs relatam padrão recorrente: a lei serve para silenciar opositores, resolver disputas pessoais e pressionar minorias. Garantias processuais mostram-se frágeis diante do medo e da pressão social.
China — Sinização e coerção religiosa
A República Popular da China intensificou sua política de sinização, subordinando práticas religiosas ao Partido Comunista Chinês (PCCh).
Igrejas reconhecidas devem exibir símbolos e mensagens patrióticas; cultos incorporam elementos de propaganda estatal.
A Igreja clandestina permanece sob vigilância: bispos desaparecidos, prisões periódicas e multas marcam a paisagem. Dom James Su Zhimin, Baoding, continua desaparecido desde 2003; Dom Peter Shao Zhumin, Wenzhou, foi detido em 2025 por celebrar publicamente.
A USCIRF e a Catholic News Agency Deutsch registram dezenas de detenções de clérigos desde 2022. O acordo entre Santa Sé e Pequim permanece em vigor, apesar de questionamentos internos sobre sua eficácia.
França — Aumento de ataques e debate público
Dados do Ministério do Interior francês indicam um aumento consistente dos ataques contra locais e símbolos cristãos.
Nos primeiros cinco meses do ano, foram registrados 322 atos anticristãos, um crescimento de 13% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Somente em 2024, foram contabilizados 820 furtos de objetos litúrgicos, contra 633 em 2022, e 50 incêndios de igrejas, variação de aproximadamente 30%. Apenas no departamento das Landes, 27 templos foram vandalizados em poucas semanas.
O clima de hostilidade não se limita a bens materiais. Em Lyon, um cristão assírio-caldeu foi assassinado diante de sua residência.
Em resposta ao crescimento dos ataques, 86 senadores franceses publicaram um apelo formal solicitando ao governo instrumentos de proteção equivalentes aos utilizados no combate ao antissemitismo, como canais de denúncia especializados e acompanhamento institucional sistemático.
Mulheres cristãs — Alvo preferencial
Em Seul, na Coreia do Sul, representantes de entidades cristãs expuseram um padrão de violência sistemática contra mulheres e meninas cristãs que vivem como minoria religiosa em regiões de conflito ou sob regimes hostis.
Os relatos descrevem uma realidade marcada por:
- Sequestros de jovens a caminho da escola ou de atividades comunitárias;
- Conversões forçadas, frequentemente acompanhadas de pressão familiar e social;
- Violência sexual, utilizada como instrumento de dominação e humilhação religiosa;
Em muitos casos, essas vítimas retornam grávidas ou acompanhadas de crianças nascidas dessas agressões, enfrentando novo ciclo de sofrimento e exclusão, agora dentro de seus próprios círculos sociais.
Casos na Nigéria, Sudão e República Democrática do Congo revelam traumas familiares e sociais duradouros. A Open Doors US descreveu os graves e persistentes efeitos psicológicos vividos por essas mulheres.
Síntese dos fatos observados
Os eventos reunidos nesta semana evidenciam quatro dinâmicas:
- eliminação física em zonas de insurgência
- assédio legal e tecnológico em regimes autoritários
- deslegitimação simbólica e ataques a templos em democracias
- uso da vulnerabilidade feminina como instrumento de destruição comunitária
A cristofobia assume expressões diversas — da violência física ao uso político da religião, da exclusão cultural à intimidação jurídica —, mas responde a uma mesma lógica: reduzir a liberdade cristã, limitar sua presença pública e enfraquecer seu testemunho.
Registrar esses fatos com rigor e sobriedade não é apenas relatar acontecimentos; é um dever de justiça para com aqueles que sofrem por Cristo.
A sua contribuição é mais que um gesto: é um testemunho.





