Como a Igreja Católica declara alguém santo?

Entenda o processo feito pela Igreja para reconhecer que uma pessoa viveu a fé de modo heroico.

Afresco simbólico dos Doze Apóstolos, Enrico Reffo (1831-1917). Chiesa di San Dalmazzo, Turim, Itália.

 

A recente canonização de São Carlo Acutis gerou entre muitas pessoas uma curiosidade acerca deste processo.

Em termos simples, a canonização é o ato final e solene pelo qual o Papa declara que um fiel católico falecido goza da visão beatífica, ou seja, contempla Deus face a face.

Isso significa que a pessoa está definitivamente no Céu, é considerada como modelo de vida cristã e intercessor junto a Deus.

O processo atual segue uma série de etapas estabelecidas pelo Papa Bento XIV, no século XVIII, mas que foi significativamente reformado pelo Papa João Paulo II em 1983.

A Canonização na História da Igreja

A canonização não é uma realidade moderna na Igreja. Já no início do Cristianismo, ela já estava presente.

Na segunda geração de cristãos, no século II, a comunidade já honrava aqueles que levavam uma vida exemplar, seguindo a recomendação do apóstolo São Paulo aos Romanos que recomendou:

“Glória, porém, e honra e paz a todo aquele que pratica o bem, ao judeu primeiro e também ao grego” (Rm 2,10).

Os mártires, aqueles que deram a vida por Cristo, eram venerados imediatamente após sua morte, com sua memória preservada em celebrações litúrgicas e registros históricos.

Esse reconhecimento não obedecia a um processo, mas ao princípio latino: “vox populi, vox Dei” (a voz do povo é a voz de Deus), ou seja, os bispos reconheciam como santos aqueles que a comunidade considerava como exemplares.

Assim permaneceu até o século XII, quando o papa Alexandre III estabeleceu que o processo envolveria uma investigação sobre a vida e as virtudes e deveria ser aprovado pela Santa Sé.

No século XVIII, o Papa Bento XIV sistematiza e organiza a maneira e os critérios a serem adotados nessa investigação, consolidando o processo atualmente vigente.

As etapas do processo de canonização

O reconhecimento da santidade na Igreja Católica é composto por várias etapas que refletem a busca pela verdade e fidelidade à doutrina.

Tudo começa no nível local, com a investigação sobre a vida e as virtudes do candidato, e culmina com a proclamação feita pelo Papa.

Cada fase é marcada por discernimento, oração e análise minuciosa, guiada pela Congregação para as Causas dos Santos.

Fama de Santidade

O processo não pode começar imediatamente após a morte da pessoa.

É necessário que passe um tempo (no mínimo 5 anos, que pode ser dispensado pelo Papa) para permitir uma avaliação serena e objetiva da sua vida e obra.

O processo do Padre Pio, por exemplo, iniciou 15 anos após sua morte.

Espera-se que, nesse período, a fama de santidade se consolide de forma espontânea, o que foi massivamente atestado no caso de São Pio de Pietrelcina, com milhares de fiéis já visitando seu túmulo e relatando graças alcançadas por sua intercessão antes mesmo de a Igreja abrir sua causa.

Hoje você também pode contar com essa intercessão especial: faça parte dos Filhos Protegidos do Padre Pio.

Esta etapa permite uma avaliação desapaixonada da vida daquele que consideram um servo de Deus, alguém que viveu a vida cristã com perfeição.

Fase Diocesana (ou Eparquial)

O bispo local, após receber uma petição de um grupo de fiéis e uma autorização inicial da Santa Sé, abre uma investigação.

Ele constitui um tribunal para coletar todos os escritos, cartas, sermões e obras da pessoa, analisados por especialistas (teólogos) para garantir que não há erros doutrinais.

Além disso, são ouvidas testemunhas, ou seja, pessoas que conheceram o candidato, que agora é chamado de “servo de Deus” para atestar (ou não) suas virtudes ou seu martírio.

Ao final dessa fase, toda a documentação é selada e enviada para o Dicastério para a Causa dos Santos, no Vaticano.

Fase Romana (ou Papal)

Esta é a fase mais longa e analítica.

Um especialista (o Postulador) é nomeado para defender a causa perante o Dicastério para a Causa dos Santos.

Ele compila uma enorme documentação, chamada ‘Positio’, que é uma biografia detalhada e um argumento a favor da santidade da pessoa.

Este dossiê, que pode ter milhares de páginas, reúne toda a evidência coletada e a argumentação teológica sobre suas virtudes.

A ‘Positio’ é examinada primeiro por um painel de teólogos e depois por um comitê de bispos e cardeais. Se ambos os grupos aprovarem, o caso é apresentado ao Papa.

O Primeiro Grande Passo: Declaração como “Venerável”

Se o Papa concordar com as conclusões, ele emite um decreto declarando que a pessoa praticou as virtudes (Fé, Esperança, Caridade, Prudência, Justiça, Temperança e Fortaleza) em grau extraordinário ou sofreu martírio por amor a Nosso Senhor.

Neste ponto, a pessoa recebe o título de “Venerável”. É um reconhecimento de que ela viveu uma vida de virtude heróica, mas ainda não significa que pode ser publicamente venerada.

Ainda não se prova que está no Céu, mas a Igreja reconhece que há fortes indícios de que ela está salva e na glória de Deus.

Beatificação: comprovação da santidade

A beatificação é uma etapa fundamental no processo de canonização, marcada pela comprovação de um milagre atribuído à intercessão do candidato à canonização.

No caso dos mártires, o martírio em si é considerado prova suficiente. O milagre deve ser um evento extraordinário, geralmente uma cura, que não encontra explicação científica plausível.

O processo de análise do milagre é rigoroso e dividido em duas etapas principais: a científica e a teológica.

Em primeiro lugar, os especialistas médicos avaliam detalhadamente os dados clínicos, os exames e o histórico do evento. Eles precisam atestar que a cura não pode ser explicada pelas leis naturais ou por metodologias médicas conhecidas.

Após a aprovação médica, o caso é submetido à análise teológica, que examina se o milagre pode ser atribuído legitimamente à intercessão do Venerável.

Isso inclui avaliar a relação entre as orações dirigidas ao candidato e o evento milagroso.

Se o milagre é reconhecido, o Papa pode emitir o decreto de beatificação, permitindo o culto público ao Beato em um âmbito mais local ou regional.

A beatificação, portanto, é um passo essencial para confirmar a santidade do candidato e incentivar a devoção popular.

Essa exigência de um milagre, porém, levanta uma questão fundamental: por que a Igreja exige milagres nesse processo?

Por que são necessários milagres?

Os milagres no processo de canonização possuem um papel central como sinal da aprovação divina.

Eles são entendidos pela Igreja como uma confirmação celestial de que o candidato está na glória de Deus e intercede eficazmente pelos fiéis na terra.

A exigência de milagres é a prova de que a santidade deve ser atestada não apenas por critérios humanos, mas também pela manifestação do poder de Deus.

O processo de canonização funciona, assim, como um filtro de séculos, projetado para separar o fervor momentâneo da devoção autêntica e atestada pelo céu.

Os milagres não são realizados pelo candidato à canonização, mas atestam que, estando junto de Deus, ele pode interceder pelas preces dos fiéis e obter d’Ele as graças pedidas.

Por isso, inscreva-se nos Filhos Protegidos do Padre Pio e confie suas intenções a ele.

Canonização: proclamação da santidade

A canonização é o ponto culminante do processo que reconhece oficialmente aquele candidato como santo, propondo-o como modelo universal de vida cristã para toda a Igreja.

O Papa preside uma Missa Solene de Canonização, na qual declara oficialmente:

“Nós, em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo e pela Nossa autoridade, declaramos e definimos que [nome] é Santo, e o inscrevemos no catálogo dos Santos, e estabelecemos que em toda a Igreja ele seja devotamente honrado entre os Santos.”

O novo Santo é inscrito no catálogo dos Santos da Igreja Católica e pode ser venerado por todo o mundo católico, com sua própria festa litúrgica.

A canonização do Padre Pio, em 2002 por João Paulo II, foi uma das maiores cerimônias da história, reconhecendo oficialmente o que milhões de fiéis ao redor do mundo já acreditavam.

A Igreja não faz santos, apenas os reconhece

Esse é o processo oficial pelo qual a Igreja reconhece os santos.

Ela não os fabrica, não os “santifica”, até porque o processo de santificação é algo que acontece entre o indivíduo e o próprio Deus.

Sabemos, porém, que muitas pessoas viveram heroicamente a fé e não passaram por esse processo.

Será que não são santas? Muitas delas com certeza são! Mas a Igreja é muito cuidadosa e prudente ao apresentar uma pessoa como modelo de vida cristã para todos os fiéis.

Afinal, viver a santidade é um compromisso batismal de todos os fiéis, desejado pelo próprio Deus: “A vontade de Deus é a vossa santificação” (I Ts 4,3). À Igreja cabe apenas o reconhecimento.

Se deseja caminhar mais perto da santidade e permanecer sob o olhar atento desse grande santo, torne-se hoje mesmo um Filho Protegido do Padre Pio.

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