Uma visão profundamente mística da Santa Missa que nos faz compreender a Paixão de Cristo em cada celebração.
Helena Kowalska, a jovem que o mundo conheceria mais tarde como Santa Faustina, teve desde cedo uma sensibilidade extraordinária para os mistérios divinos.
Antes mesmo de entrar no convento, já enxergava na Santa Missa algo que muitos católicos, por uma vida inteira, não compreendem completamente: a renovação incruenta do Sacrifício do Calvário.
Certa vez, ao ensinar sua irmã Natalia sobre a Missa, revelou uma interpretação que não vinha de meros estudos teológicos, mas de uma alma que já se deixava conduzir pelo sobrenatural.
Cada gesto do sacerdote, cada palavra, cada rito, para Helena, estava diretamente ligado aos sofrimentos de Nosso Senhor.
A Missa como reflexo da Paixão
A explicação que Helena deu à sua irmã tem uma clareza impressionante. Não se tratava de uma aula teórica, mas de uma verdadeira contemplação mística.
Ela começava dizendo: “Preste atenção no que o padre está fazendo. Quando ele entra, Cristo vai rezar no Horto e cobre-se de suor e sangue.”
O início da Santa Missa, portanto, não é apenas um momento de preparação externa, mas a própria agonia de Cristo no Horto das Oliveiras. Ali, Ele se angustia diante dos pecados do mundo e já antecipa os tormentos da Paixão.
Quando o sacerdote beija o altar, Helena via a traição de Judas: um beijo que deveria ser sinal de amor e reverência, mas que, no traidor, selava a infâmia da entrega do Senhor aos seus algozes.
Ao aproximar-se do centro do altar, para dar início à Missa, o sacerdote reflete Jesus sendo conduzido de tribunal em tribunal, de Anás a Caifás, e depois a Pilatos. O canto do Kyrie Eleison é como as bofetadas e escarros que o Salvador recebeu ao longo de seu caminho para a Cruz.
O Lavabo – momento em que o sacerdote lava as mãos – lembra Pilatos, que, covardemente, lavou as suas para tentar fugir à responsabilidade de condenar um Justo.
Mas, enquanto Pilatos o fazia por omissão e medo, o sacerdote o faz para se purificar, recordando a necessidade de estar limpo para tocar no Corpo de Cristo.
Quando o cálice é descoberto, Santa Faustina via a cena terrível da coroação de espinhos. O Corpo Santo de Nosso Senhor sendo zombado, coroado com espinhos e apresentado como um rei de escárnio.
E então vem o momento central: a Consagração. “Quando o padre levanta a Hóstia – Jesus é elevado na Cruz.” Poucas palavras, mas uma verdade avassaladora. Naquele instante, o Céu toca a Terra.
Cristo, que há dois mil anos foi suspenso no madeiro por nossa salvação, se faz presente novamente no altar, de modo real e substancial.
E finalmente, quando o sacerdote fraciona a Hóstia e a introduz no cálice, Santa Faustina via a consumação do sacrifício: “É Jesus que morre.”
O ato simbólico de partir o Pão Eucarístico contém, em si, toda a profundidade do mistério do Gólgota.
O esquecimento do caráter sacrificial da Missa
Esta visão de Santa Faustina nos lembra algo que muitos hoje insistem em esquecer: a Santa Missa não é um simples “banquete fraterno”, nem uma mera reunião de fiéis.
Ela é, acima de tudo, o Santo Sacrifício do Altar, a renovação mística da Paixão de Cristo.
Infelizmente, ao longo das últimas décadas, houve uma tendência de minimizar esse aspecto sacrificial. Há aqueles que preferem transformar a Missa em um evento social, onde o sentido de reparação pelos pecados e o espírito de penitência foram quase completamente varridos.
Pouco se fala da gravidade do pecado, do temor de Deus, da necessidade de contrição profunda.
Santa Faustina, no entanto, enxergava com olhos sobrenaturais o que muitos preferem ignorar. Sua explicação à irmã Natália é um convite para que voltemos a considerar a Missa com o respeito e a reverência que ela merece.
Padre Pio e a Santa Missa: um sofrimento visível
Não é possível ler essas palavras sem nos lembrarmos de São Pio de Pietrelcina, outro gigante da espiritualidade que viveu o mistério da Missa como poucos.
O santo capuchinho, que tinha a graça das chagas de Cristo em seu próprio corpo, dizia que, ao celebrar o Santo Sacrifício, revivia os sofrimentos do próprio Redentor.
Os que assistiam à sua Missa testemunhavam uma cena impressionante: ele tremia, suava, por vezes chorava copiosamente.
Seu rosto refletia o horror do pecado e a dor da Paixão. Não era um mero teatro, mas a experiência real da união mística com Cristo Crucificado.
Padre Pio e Santa Faustina são duas almas escolhidas que nos recordam esta verdade fundamental: não há Missa sem o Sacrifício, não há Eucaristia sem a Cruz.
Como aplicar essa lição na vida cotidiana?
Diante dessa realidade, cabe-nos perguntar: como temos assistido à Santa Missa? Vamos ao altar com espírito de penitência e recolhimento, ou nos distraímos com superficialidades?
Santa Faustina nos ensina que cada gesto do sacerdote tem um significado profundo, e cabe a nós redescobrirmos esse tesouro. A Missa não é um evento rotineiro, nem um costume vazio. Ela é, verdadeiramente, o ponto mais alto da nossa fé, onde o Calvário se faz presente.
Diante disso, uma pergunta se impõe: será que entendemos a gravidade e a sublimidade da Missa, ou a tratamos com indiferença?
Se Santa Faustina, ainda jovem, já tinha essa percepção profunda, quanto mais nós, que temos o privilégio de conhecermos seus escritos, deveríamos nos esforçar para viver a Santa Missa com mais fervor!
Que tal pedir a graça de compreender melhor o Santo Sacrifício? Podemos começar com uma oração simples, pedindo que Nossa Senhora e São Pio de Pietrelcina nos ensinem a assistir à Missa com o mesmo espírito de fé, amor e sacrifício.