A Festa da Anunciação de Maria, início da nossa Redenção.
Antiquíssima é a festa que a Igreja celebra hoje, e tem o nome de Anunciação de Nossa Senhora pelo seguinte motivo: Estava no plano de Deus, que a segunda Pessoa da Santíssima Trindade salvasse o gênero humano e para este fim tomasse a natureza humana.
Tendo chegado o momento escolhido desde a eternidade para a realização deste grande mistério, o arcanjo S. Gabriel foi incumbido da missão de comunicá-lo a Maria, santa donzela, que residia em Nazaré e que era descendente do rei David.
Maria, casada com José, homem justo, como Ela da casa de David, em virtude de um voto que havia feito a Deus, vivia com ele em perfeita e virginal castidade.
Entre todas as mulheres do mundo a Santíssima Trindade tinha escolhido esta para Mãe do Messias prometido e por este motivo, não resta dúvida, foi que a enriqueceu de tantos privilégios e graças, que em santidade a eleva acima de toda criatura humana.
A Virgem, por Deus tão privilegiada, achava-se em oração, quando o arcanjo entrou no seu aposento. Não é destituída de razão a opinião de Santos Padres que supõem que o objeto da oração de Maria tivesse sido: a vinda do Messias.
O arcanjo saudou-a com estas palavras:
“Ave, Maria, cheia sois de graça, o Senhor é convosco; bendita sois entre as mulheres.”
Maria, ao ouvir esta saudação, assustou-se. O arcanjo, porém, prosseguiu:
“Nada temais, Maria! Achastes graça diante de Deus. Eis, conceberás e darás à luz um filho a quem porás o nome de Jesus.
Este será grande chamar-se-á Filho do Altíssimo e Deus lhe dará o trono de seu pai David e ele reinará eternamente na casa de David e seu reinado não terá fim.”
A Humildade de Nossa Senhora.
O que se passou na alma da Santíssima Virgem, ao ouvir estas palavras, das quais cada uma encerra um mistério insondável, é mais fácil imaginar-se do que exprimir-se em palavras.
Maria não se perturbou e perguntou ao arcanjo: “Como se fará isto, visto que eu não conheço homem?”
Estas palavras não eram a expressão duma dúvida que a SS. Virgem tivesse do que o arcanjo dissera: eram antes a linguagem da humildade, que não podia supor que Deus a tivesse escolhido para tão alta dignidade.
São Gabriel esclareceu-a imediatamente sobre este ponto, mostrando-lhe que ser mãe não implicaria seu estado de virgem.
Ao ouvir esta declaração, Maria Santíssima, com toda humildade se sujeitou à vontade divina e disse: “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo vossa palavra.”
No mesmo momento realizou-se o grande mistério da encarnação. O Verbo de Deus se fez carne, o verdadeiro Filho de Deus tomou a natureza humana.
A Singularidade de Maria.
A palavra de Maria significava para Deus a maior humilhação, para ela, porém, a elevação à mais alta dignidade. O Filho unigênito de Deus se fez homem; Maria Santíssima veio a ser Mãe de Deus, sem com isso perder sua virgindade.
Os Santos Padres são unânimes em afirmar que a Encarnação do Verbo de Deus é de todos os mistérios o maior e nele todos os demais se encerram;
é um mistério que transcende nossa compreensão, um mistério, de que refletem as mais altas perfeições de Deus, como sejam sua sabedoria, caridade e misericórdia.
Na Encarnação se revela a sabedoria divina, pois inteligência nenhuma a não ser a divina poderia ter descoberto a paz entre Deus e a criatura;
a Encarnação é a revelação da caridade e misericórdia divinas, porque outro princípio não teve, senão a infinita bondade de Deus para com os homens.
O Pai Divino manda seu Filho unigênito ao mundo para salvá-lo pelo amor.
O Filho de Deus desce do céu para salvar o mundo pelo amor. O Espírito Santo, o eterno amor, prepara aquele santo corpo que será dado como vítima da salvação, “tanto Deus amou ao mundo.”
O dia da Anunciação foi o grande dia, pois que o anelava o mundo inteiro. No dia de hoje se realizaram os desejos, suspiros e profecias dos patriarcas e profetas do antigo Testamento.
Hoje comemoramos a data em que o Filho de Deus desceu ao seio da Virgem Mãe; daqui a poucos meses vê-lo-emos reclinado na manjedoura e mais tarde o acharemos no altar da cruz para, com o preço do seu Sangue, resgatar o gênero humano.
No dia de hoje, admiraram o grandioso mistério da Encarnação realizado nas puríssimas entranhas da Santíssima Virgem. Muito mais razão temos nós para fazer o mesmo hoje e todos os dias da nossa existência.
Esta homenagem tão digna quão justa podemos prestá-la na Santa Missa e no toque do “Angelus”. Pronunciando as palavras: “e o Verbo se fez carne” o sacerdote dobra o joelho em profunda adoração ao augusto mistério.
Com este cerimonial a Igreja nos quer lembrar o grande mistério, que merece todo o nosso respeito, toda a nossa gratidão e todo o nosso amor.
O toque do “Angelus” não tem outro fim a não ser o de incutir-nos na memória o mistério fundamental da nossa santa religião, para que dele nunca nos esqueçamos e o veneremos todos os dias com muito acatamento.
Como bons católicos devemos ser filhos gratos e devotos de Maria Santíssima. No momento em que ela foi elevada à dignidade de Mãe de Deus, ficou sendo também nossa Mãe, porque, pela Encarnação, Jesus Cristo se dignou ser nosso irmão.
Fazendo esta consideração, Santo Anselmo escreve: “Se Jesus Cristo é irmão dos fieis, há um motivo porque sua Mãe não possa ser também nossa Mãe?”
A Ela pois devemos dirigir-nos como filhos à Mãe, com amor, confiança e gratidão. Nunca se ouviu dizer que Maria tivesse abandonado aqueles que, confiantes, a invocaram em suas necessidades.