1º. – A Imaculada Conceição e a Assunção. – São dois mistérios da Santíssima Virgem que têm entre si íntima relação. – A igreja assinala os dois e realça-os sobre todos os outros conservando o dia santo destas festas depois de ter suprimido outros da Santíssima Virgem.
– A Imaculada Conceição e a Assunção são o princípio e o termo da vida da Santíssima Virgem na terra e estes dois extremos estão tão unidos entre si que um vem a ser como que a causa ou a razão do outro. Se é Imaculada não pode ficar no sepulcro necessariamente há de subir ao céu.
– A Conceição imaculada é um privilégio uma exceção do pecado com que todos nascemos. A Assunção é outra exceção da regra geral que todos temos de seguir na nossa morte.
– Por isso Maria mais do que morrer, o que faz é deixar a sua mortalidade no sepulcro e assim como foi concebida para a graça foi concebida para a glória através da morte do corpo, mas vencendo a morte.
– Nunca foi escrava do pecado nem na sua Conceição; por isso foi Imaculada; não pôde ser escrava da morte nunca; por isso foi levada ao céu em corpo e alma. Deste modo a Assunção da Santíssima Virgem é o complemento necessário da sua Conceição Imaculada.
2º. – A verdade da Assunção. A Igreja já celebrava esta festa como uma das suas grandes solenidades. No dia 1 de Novembro de 1950, Pio XII satisfazendo os anseios de toda a Igreja proclamava finalmente como dogma a Assunção de Nossa Senhora ao céu.
– Para o coração cristão não havia possibilidade de dúvida. – A Ascensão de Jesus aos céus tem relação direta com a sua Paixão. Pois bem, se a paixão dolorosa acabou para Jesus na glória da sua Ascensão, para Maria, que tão unida esteve a seu Filho no Calvário, havia de acabar no triunfo da Assunção.
Todos havemos de ressuscitar e esperamos na sua graça que havemos de subir ao céu. Mas não era justo que Maria se adiantasse como Mãe nos preparasse a nossa morada e casa de filhos no céu?
Foi a primeira na graça, na santidade, na pureza, no voto de virgindade; portanto que coisa mais natural que o fosse também na Ressurreição e Assunção?
Se assim não fosse, poderíamos dizer que Cristo teria procedido injustamente com sua Mãe negando-lhe as honras que concedeu aos corpos mortos dos outros santos.
Onde está o corpo de Maria, onde as suas relíquias, onde o sepulcro magnífico, a urna riquíssima em que se guardam os seus restos?
– Não existe nada disto, nem pode existir. Conclui pois com um ato de fé nesta verdade certa e indubitável da Assunção em corpo e alma ao céu da tua querida Mãe.
– Dá por isso graças ao Senhor parabéns à Virgem Santíssima, visto que pela Assunção ocupa o lugar que lhe corresponde no reino de Deus.
3º. – A glória da Assunção. – Contempla pela última vez aquele sepulcro, donde vai a brotar de repente como uma explosão de luz no meio das trevas, a vida triunfante da morte.
– Nos três dias que aquele corpo imaculado esteve no sepulcro, foi guardado e custodiado por anjos enviados por Deus desde o céu, como escolta de honra a que ia ser dentro em pouco coroada como rainha de todos eles.
– Ouve aquelas músicas celestiais que, para honrar aquele corpo virginal, entoariam os anjos sem cessar.
– Escuta aquelas exclamações com as quais fariam doce violência ao Senhor ao repetir sem cessar as palavras do salmo, que parece escrito para esta ocasião: Levanta-te, Senhor, vem para o lugar do teu descanso.
Tu e a Arca da tua santidade Levanta-te às alturas do teu trono, senta-te à direita de teu Pai, que é o lugar que te corresponde, mas leva contigo a Arca Sagrada onde estiveste encerrado, onde foi depositado o infinito tesouro da tua santidade; glorifica já essa carne bendita e esse sangue puríssimo que serviram para formar o teu sacratíssimo corpo e te deram matéria para ofertar a teu Pai a hóstia de reparação e santificação pelos pecados do mundo inteiro.
E com efeito, chegou o momento ditoso em que Deus quis dar execução a estes desejos do céu e por ordem sua desceu a alma de Maria a unir-se de novo com o seu corpo e aquele corpo, assim vivificado com a vida da imortalidade, começou a subir ao céu, segundo diz a Igreja, como naturalmente sobe às alturas a nuvem de fumo do
incenso.
Para contar o número sem número de anjos que em legiões cerradas descem do céu para acompanhar o triunfo de Maria; as suas músicas e os seus hinos de glória fendem os ares com as mais doces e suaves harmonias. O gozo que experimentam é inexplicável.
– Deus aumentou hoje a sua glória e felicidade Que cortejo tão formosíssimo! – Todos brilham com nova luz neste dia e contudo, no meio deles, como a lua entre as estrelas, sobressai o brilho, o esplendor, a puríssima formosura da Santíssima Virgem, a qual, pela mão de seu Filho (que quis vir em pessoa a buscá-la e fazer com a sua presença mais solene, mais grandioso o triunfo de sua Mãe) vai lentamente deixando a terra pisando as nuvens e atravessando as mais altas esferas chega às mesmas portas do céu, onde novos anjos impacientes saem a esperar aquela magnífica procissão que sob da terra ao céu.
Assim acaba a cena da terra e começa a glória do céu. Reúne na tua imaginação tudo quanto de grande e esplêndido
possas imaginar, porque tudo será nada em comparação com a sublime e grandiosa realidade.
– Vê-te com tanta pequenez, com tanta miséria, diante da grandeza da tua Mãe e levanta-te com ela, sobre as coisas da terra. Trata em especial de imitar a humildade que teve nesta vida, para que depois, com Ela e como ela seja a tua alma exaltada e sublimada na outra.
Fonte: Pontos de Meditação Sobre a Vida e Virtudes de Nossa Senhora, D. Ildefonso Rodriguez Villar, 1954.
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