Como a Igreja chegou à data de 25 de dezembro para celebrar o Natal.

Em que dia nasceu Jesus? Essa é uma pergunta comumente feita nesta época do ano. Infelizmente, muitas das respostas que circulam hoje não fazem jus à tradição cristã.
Muitos ateus e protestantes acusam a Igreja de ter inventado esta data para substituir a Saturnália ou uma tal Festa do Nascimento do Sol Invicto. A tese se espalhou, mas carece de fundamento.
Existem registros dos primeiros séculos que apontam para o dia 25 de dezembro como a data certa do nascimento de Nosso Senhor.
Além disso, a Sagrada Escritura oferece algumas informações que permitem deduzir uma data mais ou menos aproximada.
Reunindo esses indícios, estudos mais precisos, como os de Monsenhor Nicola Bux, autor de ‘Jesus o Salvador’, e do teólogo Taylor Marshall, em ‘A Cidade Eterna’, confirmam que a data de 25 de dezembro possui bases históricas e bíblicas sólidas.
Diante dessa certeza, muitos cristãos aproveitam este momento para acender uma vela de Natal, como sinal de gratidão pela Encarnação do Filho de Deus.
Os Apóstolos não comemoravam o Natal
Não se encontra nos evangelhos, nem nas Cartas dos apóstolos, qualquer referência ao Natal.
Os primeiros cristãos não comemoravam os aniversários de nascimento neste mundo, mas o nascimento para a vida eterna (às vezes chamado “trânsito”).
Eles chamavam a morte de “dies natalis” (o dia natal), porque viam nela o início da vida plena, onde o homem poderia gozar da verdadeira vida junto a Deus e seus santos.
As primeiras comunidades cristãs recordavam fielmente a Páscoa (no 14/15 do mês de Nisan), mas não há registros sobre a celebração do Natal.
Essa falta de informações sobre a celebração do Nascimento de Jesus permanece até o fim do século II e o início do século III, quando surgem os primeiros testemunhos de Padres e escritores eclesiásticos.
Os Primeiros Testemunhos a favor do 25 de dezembro
O primeiro testemunho é dado por São Teófilo, bispo católico de Cesareia, na Palestina (morto no ano de 195), que afirmou:
“Devemos celebrar o nascimento de Nosso Senhor em 25 de dezembro.”
Entre os anos 200 e 211, o Santo Hipólito escreveu em seu “Comentário ao Livro de Daniel”:
“O Primeiro Advento [vinda] de nosso Senhor na carne ocorreu quando Ele nasceu em Belém, era 25 de dezembro, uma quarta-feira, quando Augusto estava no seu quadragésimo segundo ano, que é cinco mil e quinhentos anos desde Adão.”
Já em 221, o historiador cristão Sexto Júlio Africano, nas ‘Cronografias’ dá um testemunho indireto de que o Natal ocorreu em 25 de dezembro, ao situar a Anunciação do Anjo e a Encarnação no dia 25 de março.
Mas seria somente no ano de 354 que o dia 25 de dezembro iria aparecer como a data do Natal.
No Calendário Litúrgico filocaliano, um documento que servia como um calendário civil e eclesiástico primitivo, se encontra a seguinte anotação:
“No dia 25 de dezembro nasceu Cristo em Belém da Judéia”.
A partir do século IV, o dia 25 de dezembro já está universalmente aceito como a data da celebração do Nascimento de Jesus Cristo em Belém.
A acusação do Sol Invicto
Apesar dos registros claros dos primeiros séculos, difundiu-se, nas últimas décadas, a acusação de que a Igreja teria forjado a data do Natal para impor as suas crenças sobre as tradições pagãs.
É quase unânime ler e ouvir historiadores, seja nos livros ou nas redes sociais, afirmarem que a Igreja escolheu o dia 25 de dezembro para eliminar a Saturnália ou o Dia do Sol Invicto.
Acontece, porém, que a Saturnália acontecia entre os dias 17 e 23 de dezembro, para comemorar a chegada do Inverno. As datas não coincidem.
Em relação à acusação de que a Igreja escolheu a data para substituir a festa do “dia do nascimento do Sol invicto”, a verdade é que o culto ao Sol Invencível só foi instituído pelo imperador Aureliano no ano 274 d.C.
Como vimos, os testemunhos cristãos que associam o Natal ao 25 de dezembro são bem anteriores a essa instituição.
O dia 25 de dezembro só se tornou o dia do “Nascimento do Sol Invencível” a pedido do imperador Juliano, o Apóstata, após sua subida ao trono em 361.
Ocorre que Juliano havia sido cristão, mas abandonou a verdadeira fé e retornou ao paganismo romano. É mais plausível, portanto, que ele tenha buscado criar uma alternativa pagã ao Natal já celebrado pelos cristãos.
Assim, parece que a festa do Sol Invicto foi introduzida para tentar substituir a data do Natal cristão, e não o contrário.
O testemunho da Sagrada Escritura
Além dos testemunhos históricos, há também elementos bíblicos que corroboram a celebração do Natal no dia 25 de dezembro.
Nos seus livros, tanto Monsenhor Bux, quanto Taylor Marshall assinalam que é possível determinar a época em que Zacarias, pai de São João Batista, estava servindo no Templo de Jerusalém quando lhe foi anunciado o nascimento do Precursor.
O Evangelho de São Lucas afirma:
“Nos tempos de Herodes, rei da Judéia, houve um sacerdote por nome Zacarias, da tribo de Abias […]. Ora, exercendo Zacarias diante de Deus as funções de sacerdote, na ordem de sua classe, coube-lhe por sorte, segundo o costume em uso entre os sacerdotes, entrar no santuário e aí oferecer o perfume” (Lc 1, 6.8).
A descoberta dos manuscritos do Mar Morto nos permitiu saber que a semana em que entravam de serviço, no Templo, os Sacerdotes da classe de Abias, à qual pertencia São Zacarias, iniciava a 23 de setembro e terminava a 30 do mesmo mês.
Acrescentando 9 meses temos o 24 de Junho, em que a Igreja celebra o nascimento do Batista.
Ora, sabemos, que logo após a Anunciação do Anjo a Virgem Maria se dirigiu às pressas para visitar e auxiliar sua prima Santa Isabel, grávida de seis meses: “… já está no sexto mês aquela que é tida por estéril” (Lc 1, 37), que vivia a três dias de viagem.
Seis meses depois da última semana de Setembro é a última semana de Março. Não por acaso, é exatamente nesse período que a Igreja celebra a Encarnação de Jesus, no dia 25 de março, como já afirmava Júlio Africano.
E, contando mais nove meses a partir dessa data, chegamos ao dia 25 de dezembro.
A Data Que a Igreja Sempre Guardou
Com base nos testemunhos anteriores às festas pagãs, nos registros dos séculos III e na cronologia derivada das Escrituras, fica claro que o dia 25 de dezembro não foi uma invenção posterior, mas uma data já reconhecida e preservada pelos primeiros cristãos.
Nada indica que a Igreja tentou “substituir” qualquer culto pagão; pelo contrário: foram os pagãos é que reagiram a uma celebração cristã já estabelecida.
E todas essas referências — históricas, patrísticas e bíblicas — parecem convergir para a mesma conclusão: o dia 25 de dezembro é, sim, a data mais sólida e coerente para o nascimento de Jesus.
Por isso, celebrar o Natal em 25 de dezembro é celebrar esse acontecimento real que dividiu a história num antes e depois, no próprio dia em que ele provavelmente aconteceu.
Aproveite este dia abençoado para acender sua Vela de Natal e confiar suas intenções ao Menino Jesus.




