De um guerreiro romano a um farol de caridade, conheça a história do homem que encarnou o conceito da caridade cristã.

O inverno na Gália do século IV era implacável. Um vento cortante, carregado de gelo, açoitava as muralhas da cidade de Amiens.
Entre as sombras do crepúsculo, um jovem soldado romano, montado em seu imponente cavalo, fazia sua ronda.
Martinho de Tours, com sua capa militar pesada e quente, era a imagem viva do poder imperial.
Uma decisão, diante de um homem invisível para a multidão, estava prestes a mudar sua vida para sempre e ecoar por séculos.
Nascido Pagão, mas Atraído pela Fé Católica
Nascido na Hungria no ano 316 ou 317, São Martinho de Tours viveu em Pavia, na Itália, porque seu pai, um veterano do exército, havia recebido de presente um terreno naquela cidade.
Seus pais eram pagãos, mas ele, um jovem aspirante a militar, era fascinado pelo cristianismo.
Com apenas 12 anos, queria ser um eremita e retirar-se para o deserto.
Mas um edito do Império colocou-lhe a farda e a espada antes de seu sonho de oração em solidão.
Por isso o jovem Martinho teve que se alistar e acabou em um quartel na Gália (atual França).
O Grandioso Gesto com o Manto
Certo dia, ele o viu junto ao portão da cidade: um mendigo, tremendo de frio, quase nu, com as mãos estendidas em um gesto silencioso de desespero.
A multidão passava, desviando o olhar, indiferente ao espetáculo da miséria humana. Algo, porém, estremeceu no coração do soldado. Não foi apenas pena; foi um chamado.
Sem hesitar, São Martinho desembainhou não sua espada, mas a própria capa que o aquecia.
Com um gesto decisivo, cortou o manto militar ao meio com sua lâmina e deu uma das partes ao homem.
Naquela noite, ele sonhou e viu Jesus Cristo envolto no pedaço de tecido que doara, dizendo aos anjos:
“Martinho, que ainda é catecúmeno, vestiu-me com este manto”.
Aquele ato de caridade não era apenas para um mendigo, mas para o próprio Jesus Cristo disfarçado na pessoa do pobre.
Séculos depois, em terras lusas, esse mesmo momento de caridade seria imortalizado numa celebração nacional.
Portugal celebra São Martinho com uma festa popular ligada à tradição do soldado e marcada pelo magusto, a fogueira de castanhas e vinho novo que simboliza partilha e alegria.
O calor das castanhas assadas e a alegria do vinho bebido em comunidade ecoam, de certa forma, o calor que São Martinho ofereceu naquele dia frio.
A Batalha Interior de um Guerreiro
Esse evento foi o ponto de virada. A capa partida ao meio simbolizou a divisão em sua própria vida: de um lado, a carreira militar que o prendia; do outro, o chamado irresistível para a fé católica.
O batismo que ele já buscava como catecúmeno tornou-se uma urgência.
Aquele corte na capa foi também o corte que separou o velho homem do novo discípulo de Jesus Cristo.
Logo após, Martinho enfrentou seu comandante, declarando:
“Servi a ti como soldado; permita-me agora servir a Cristo. Aquele que está para combater não deve se envolver com os negócios deste mundo”.
A coragem que demonstrava no campo de batalha transferiu-se para a arena da fé.
Na festa da Páscoa seguinte, foi batizado. Recebeu o Sacramento por volta dos 40 anos.
Logo, ele trocou a armadura pelo hábito monástico, fundando o mosteiro de Ligugé, o primeiro da França.
Sua fama de santidade, no entanto, não poderia ser contida pelos muros do claustro. O povo, faminto por um pastor autêntico, o aclamou Bispo de Tours.
Um Pastor Segundo o Coração de Deus
Conta-se que, relutante com a honra, São Martinho teria se escondido em um celeiro cheio de gansos.
O grasnar das aves, no entanto, delatou sua localização para a multidão que o procurava.
Como bispo, São Martinho de Tours foi um pastor incansável.
Destruiu templos pagãos, não com a força da espada, mas com o poder de sua pregação e dos milagres que o acompanhavam.
Suas mãos, que antes seguravam as rédeas de um cavalo de guerra, agora impunham a bênção, curavam os doentes e ofereciam consolo.
A “Capa de São Martinho” (em latim, cappella), tornou-se uma relíquia tão preciosa que os sacerdotes que a guardavam eram chamados de cappellani… a origem da palavra portuguesa “capelão”.
Em 397, em Condate, atual Candes de Saint Martin (França), partiu para resolver um cisma que havia surgido entre o clero local. Em virtude do seu carisma, pacificou os ânimos.
Mas, antes de regressar para Tours, foi acometido por febres violentas.
São Martinho de Tours faleceu, deitado na terra nua, conforme o seu desejo. Uma grande multidão participou do enterro de um homem tão querido, generoso e solidário; um verdadeiro cavaleiro de Jesus Cristo.
Da Capa ao Hospital: A Compaixão que se Torna Obra
O mesmo impulso de caridade que moveu a mão de São Martinho a dividir seu manto para aliviar um sofrimento imediato, séculos depois encontra paralelo na atitude de um frade capuchinho italiano.
Padre Pio, vendo Cristo no rosto de cada enfermo, não se contentou em oferecer um alívio passageiro.
Erigiu a Casa “Sollievo della Sofferenza” — um “Alívio do Sofrimento”. Um hospital que é como a “capa de Martinho” amplificada para o nosso tempo.
Se o soldado santo ofereceu abrigo de uma noite de frio, o Padre Pio construiu um abrigo para o sofrimento humano em todas as suas formas.
E você também pode fazer parte dessa história de amor ao próximo.
Torne-se um Filho Protegido do Padre Pio e una-se a milhares de devotos que sustentam um apostolado inspiradas por ele.
Um Legado que Aquece o Mundo Atual
A história de São Martinho de Tours é um manual vivo de ação. Ele nos ensina que a santidade começa com um gesto concreto, por mais simples que pareça.
Que a verdadeira conversão exige coragem para mudar de vida. E que a caridade não é um sentimento vago, mas uma ação que “rasga” o que temos de mais valioso para compartilhar.
Seu manto, guardado em um oratório, tornou-se um símbolo nacional da França, mas seu verdadeiro legado é a caridade que ateou o fogo de Jesus na terra.
O tempo passou, mas o testemunho permaneceu.
São Martinho de Tours prova que os maiores feitos não estão nos campos de batalha, mas nos gestos que marcam eternamente.
E se hoje o mundo precisa novamente desse calor, Padre Pio te convida a reacender a caridade com gestos simples, nascidos da fé.






Uma resposta
Que lindo o gesto de São Marinho