Baseado no ensaio do Pe. José María Iraburu em “Evangelización de América, 93. Gabriel García Moreno, presidente del Ecuador” (InfoCatólica).
Um clarão em meio às trevas
Quito, 6 de agosto de 1875 (150 anos atrás).
O presidente Gabriel García Moreno sai da Catedral Metropolitana, onde acaba de fazer uma breve visita ao Santíssimo Sacramento – prática que cultivava com ardor.
Cruza a Praça Grande em direção ao Palácio de Carondelet. À porta, rebenta a emboscada: golpes de facão, tiros, o presidente vacila e cai.
Ensanguentado, eleva a voz pela última vez: “¡Dios no muere!” — Deus não morre.
A frase não é ornamento; é programa, testamento e desafio.
O pano de fundo: a desordem revolucionária
O Equador nascera entre tremores: caudilhos rivais, províncias em conflito, cofres vazios, laicismo militante.
A Revolução — no sentido profundo da palavra — queria amputar a Igreja do corpo social, confinando-a à sacristia, enquanto a nação se desmanchava em particularismos.
Nesse cenário irrompe García Moreno (1821–1875): jurista, intelectual, homem de oração e de governo. Não se contentou com acalmar tempestades; recolocou o leme no rumo de Deus.
O estadista católico: leis com joelhos dobrados
O que moveu seu braço político não foi uma inspiração passageira, mas a convicção perene de que “a verdade católica é a espinha dorsal da civilização”.
Daí sua obra:
- Concordata com a Santa Sé (1862): restabeleceu relações claras e harmoniosas com Roma e garantiu à Igreja liberdade e proteção para ensinar, santificar e governar.
- Constituição de 1869: uma Carta que, sem ambiguidade, reconhece Deus Uno e Trino e estrutura o Estado como oficialmente católico, subordinando a vida pública à lei natural e ao Decálogo.
- Educação e ciência: fundou a Escola Politécnica Nacional, chamou ordens religiosas docentes, elevou padrões curriculares e morais. Não queria escolas neutras — queria escolas verdadeiras.
- Ordem material: disciplinou finanças, abriu estradas, saneou a máquina administrativa. Porque a verdadeira piedade detesta a improvisação e ama a ordem.
Na pena de Plinio Corrêa de Oliveira dir-se-ia: um governo com doutrina — e uma doutrina com governo.
25 de março de 1874: quando uma nação se ajoelha
Nada exprime melhor o ápice deste espírito do que o gesto solene que arrebatou o continente: o Equador consagrado ao Sagrado Coração de Jesus — e, por vínculo filial, ao Imaculado Coração de Maria.
Na Catedral de Quito, presidida por Dom José Ignacio Checa y Barba, o chefe de Estado, Garcia Moreno, põe o país sob o senhorio de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Daquele voto nasce, como lembrança de pedra, a Basílica do Voto Nacional.
Que significava isso?
Em linguagem pliniana: a Contra-Revolução erguendo a sua bandeira, não apenas no foro íntimo, mas na praça pública.
Um símbolo para unificar o país acima de facções, um protesto contra o secularismo, uma declaração de que toda autoridade humana recebe de Deus o seu peso e a sua medida.
E como que para atestar o ódio infernal que essa consagração despertou, o mesmo arcebispo Checa y Barba morreria dois anos depois, vítima de envenenamento sacrílego na Sexta-Feira Santa, segundo numerosos cronistas — crime atribuído a inimigos anticlericais.
O preço da coerência: “Deus não morre”
Reeleito, García Moreno tornou-se alvo de conjuração maçônica e anticatólica.
Após sua visita ao Santíssimo, é surpreendido diante do Palácio por Faustino Rayo e cúmplices, que o ferem a golpes e disparos.
Levam-no de volta à Catedral, onde, diante do Tabernáculo, recebe absolvição e Unção dos Enfermos em forma condicional — como manda a prudência da Igreja quando há dúvida sobre a vida do agonizante.
A consciência católica do Equador passou a venerá-lo como mártir, por ter sido abatido em ódio à fé e ao Reinado Social de Nosso Senhor.
E ficou para sempre, como estandarte, a palavra derradeira: “¡Dios no muere!”
O método que não envelhece
- O Estado laico não é Estado ateu. A neutralidade que exclui Deus não é neutralidade; é partido único do secularismo. García Moreno mostrou que a lei natural e os direitos de Deus podem – e devem – informar constituições, escolas e costumes.
- Educação é nervo de nação. Professores religiosos, disciplina e altos padrões: eis a tríplice chave de uma cultura sólida.
- Política com vida interior. Rosário, confissão frequente, devoção ao Sagrado Coração e a Nossa Senhora: disso nasce a coragem que não negocia o essencial.
- Consagrações públicas frutificam. O voto de 1874 não foi um rito bonito. Mudou a consciência nacional, consolidou identidade e ergueu uma coluna teológica no centro da vida pública.
Por que recordá-lo hoje?
Porque os adversários são os mesmos, apenas com trajes novos: relativismo, educação ideologizada, hostilidade à família e à Igreja.
O antídoto também é o mesmo: clareza doutrinária, instituições sólidas, culto público ao Coração de Jesus, coragem para governar “sub Christi Regis vexillo”.
Um legado que desafia
Podem discutir pormenores, cronologias, preferências políticas.
O conjunto, porém, impõe-se: uma Concordata que facilitou a missão da Igreja; uma Constituição católica; uma reforma educativa respeitosa da verdade; ordem fiscal e obras úteis; e, por cima de tudo, um martírio que sacraliza a mensagem.
Não é pouco para uma vida de apenas cinquenta e quatro anos.
Conclusão — Entre a espada e o Coração
Quando um presidente tombado grita “Deus não morre”, ele não faz literatura: traça uma linha. De um lado, a Revolução que dissolve; do outro, a Civilização Cristã que adora.
García Moreno escolheu – e pagou.
Cabe a nós escolher.
Que em nossas casas, paróquias e na vida pública, o Sagrado Coração de Jesus reine, proteja e comande.
Que Ele encontre, no Brasil e no mundo, homens e mulheres com a têmpera daquele equatoriano.
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Uma resposta
Este é um testemunho para todos os países e povos do mundo que esqueceram que Deus existe.
Obrigado.